Como saber se meu aborto foi bem-sucedido?

Após a ingestão dos medicamentos instala-se a dúvida: 

Será que o meu aborto funcionou?

É impossível dar-te uma resposta concreta. Para que um aborto químico seja bem-sucedido, é necessário que o produto da conceção (embrião ou feto. Lê mais aqui: restos da gestação) pare de desenvolver-se e que seja expelido após o procedimento sem necessidade de recorrer à extração cirúrgica.

Durante o processo de aborto induzido com medicamentos, o corpo irá imitar um aborto espontâneo e irá proceder à expulsão de sangue e coágulos que se irão fazer acompanhar por cólicas. Estudos referem que o pico de intensidade da dor e do sangramento se fazem sentir no momento da expulsão do conteúdo gestacional, porém, embora a mulher sinta que expulsou a gravidez, não deverá confiar apenas na sua intuição ou naquilo que sentiu. É fundamental que seja realizado um exame de sangue ou uma ecografia para confirmar o resultado final do aborto.

Porque tenho de realizar exames?

É uma forma de garantir que o teu objetivo foi cumprido e para poder tirar carga emocional negativa dos teus ombros.

Mesmo num aborto espontâneo a mulher carece de realizar exames médicos porque tem de confirmar se o aborto foi bem-sucedido e se não ficou nenhum resquício da gravidez no útero que possa trazer sérios problemas como consequência.

Preciso de confirmar mesmo tendo tido sangramento?

Considera os seguintes aspetos:

• Um sangramento abundante nem sempre significa um aborto bem-sucedido. A ocorrência de sangramento no geral também não significa necessariamente que o aborto tenha ficado completo;
• Um aborto pode acontecer com um fluxo de sangue reduzido;
• A terminação pode ter efetivamente acontecido, mas é necessário confirmar se o conteúdo foi totalmente expulso tal como acontece após um aborto espontâneo.

Portanto a resposta é sim, caso queiras mesmo descobrir se já não estás mais grávida. Não existe forma de saber se o aborto funcionou de forma intuitiva. E quanto mais cedo descobrires, melhor.

Como posso então fazer?

Tens 3 alternativas:

O teste de urina. Pode ser realizado em casa (pode ser comprado numa farmácia), porém só apenas depois de se terem passado umas 3-4 semanas desde o procedimento, assim como o teste de sangue (realizado num laboratório de análises clínicas). O motivo pelo qual é preciso esperar algumas semanas para poder realizar um ou outro tipo de teste Beta hCG deve-se ao facto de ainda existirem hormonas da gravidez mesmo depois da realização do aborto.

Para simplificar: as hormonas da gravidez demoram aproximadamente entre 3 a 4 semanas para voltar ao normal (níveis de não grávida). Se o aborto se concretizou de forma eficaz e se realizares algum destes dois testes antes do período indicado, então o resultado poderá ser um falso positivo. Isto pode fazer com que a mulher repita o processo sem necessidade para tal.

Uma outra desvantagem destes exames é precisamente o tempo que a mulher gasta enquanto espera. Imaginemos que o aborto não fica completo e que a mulher opta pelo teste de sangue ou urina. Acrescentemos a esta situação uma idade gestacional que se encontra próxima das 12 semanas (limite máximo). Se após ter esperado este tempo todo a mulher descobrir que a gravidez afinal ainda se encontra em desenvolvimento, então poderá já ser tarde de mais para repetir o aborto, visto que o tempo limite já terá sido ultrapassado. Segundo Silva, 2017[1] o declínio da hormona b-hCG não garante que a evacuação seja completa

Em último lugar, tens a ecografia. Exame que mostra os produtos da conceção que se encontram na cavidade uterina. É o método mais aconselhado para confirmar se o aborto foi bem-sucedido ou se fracassou. Este deverá ser feito mais ou menos 7 dias após o aborto químico, assim darás tempo ao corpo de expelir todo o tecido e outros resquícios da gravidez. Tal como num exame de sangue ou urina, se realizada precocemente, a ecografia poderá levar a um diagnóstico errado de aborto incompleto e isto pode fazer com que a paciente seja encaminhada desnecessariamente para uma curetagem ou aspiração a vácuo.

Os restos que se possam manter no útero na semana após o aborto não significam que exista um aborto incompleto. O corpo da mulher precisa de tempo para expelir o conteúdo e, se não subsistirem sintomas associados à existência de tecidos da gravidez tais como sangramento abundante (embora a quantidade varie[2], o mais comum é que sangramento abundante signifique um fluxo mais intenso ao ponto de chegar a precisar de usar dois pensos higiénicos por hora num período de duas horas seguidas), dor abdominal que não passa com comprimidos ou que continua dias depois do aborto, febre superior a 39º C ou de 38º C durante mais de 24 horas, ou corrimento vaginal anormal, então não será necessário avançar para uma extração cirúrgica.

Uma outra abordagem médica passaria por recorrer a ambos exames. De acordo com Silva, 2017 (ideia que podemos usar também para o caso de aborto induzido):

A concentração da B-hCG isolada não é informativa para o diagnóstico do aborto espontâneo, contudo, pode ser útil se os achados da ecografia não forem diagnósticos ou se houver suspeita de gravidez ectópica. Esta suspeita ocorre quando os valores de BhCG são superiores a 2000 mIU por Ml.

Aborto na Nuvem recomenda a realização de uma ecografia antes de levar a cabo o aborto. Não obstante, se optaste por não a realizar e, após a ingestão dos medicamentos não se produziu qualquer tipo de sangrado, então considera mesmo recorrer a um médico para que possas fazer uma ecografia e exames complementares (se necessário), pois a tua gravidez poderá ser ectópica e sob a qual o Misoprostol não tem qualquer tipo de efeito.

Basicamente, para saber se um aborto induzido se deu de forma eficaz é necessário recorrer a outras técnicas. Se sentiste que expulsaste o produto da conceção e que não precisas de elementos externos para confirmar, então pensa bem pois mais vale prevenir futuros contratempos. Destacamos que não precisas de dizer que provocaste um aborto em casa, principalmente se resides num país com leis restritivas ou proibitivas em relação ao aborto.

Documentos para download:

Abordagem terapêutica da gravidez não evolutiva no 1º Trimestre

CLINICAL GUIDELINES FOR EMERGENCY TREATMENT OF ABORTION COMPLICATIONS

Early Pregnancy Loss. Bleeding During Pregnancy: A Comprehensive Guide

Referências:

[1] Silva AC. Abordagem terapêutica da gravidez não evolutiva no 1º Trimestre. Universidade do Porto,2017. Disponível em:  https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/108964

[2] Weintraub A, Sheiner E. Early Pregnancy Loss. Bleeding During Pregnancy: A Comprehensive Guide, 25 DOI 10.1007, 2011. Disponível em: http://media.axon.es/pdf/85760_1.pdf