Amaior parte das mulheres não precisa de ir ao psicólogo depois do aborto. São raros os sentimentos de arrependimento após o aborto, sendo que, de facto, a resposta emocional mais frequente após um aborto é a de ALÍVIO.
A maior parte das mulheres não precisa de ir ao psicólogo após o aborto. O sentimento mais comum após um aborto é o de alívio.
Mesmo que sintas tristeza ou mágoa, estes sentimentos normalmente desaparecem passados poucos dias. Em países onde o tabu e estigma social são notórios devido à hipocrisia ou às pressões religiosas, é mais comum que as mulheres sofram com algum sentimento de culpa ou vergonha.
Seguem algumas orientações gerais:
- Como se sentem as mulheres depois de um aborto?
A – Toda a mulher é um ser único. Dito isto, tu és única relativamente à forma como te sentes depois do aborto. A maior parte das mulheres afirma ter sentido alívio por ter tomado a melhor decisão dentro das circunstâncias nas quais se encontravam.
No entanto, para algumas mulheres o aborto pode agravar algumas emoções como a tristeza, culpa raiva, vergonha e arrependimento. É importante reconhecer que se está triste e cuidar de si mesma no caso de sentir dificuldades.
B – Não és uma má pessoa por teres realizado um aborto. E também não estás sozinha na escolha que fizeste de fazer um aborto. Todos os anos, cerca de 42 milhões de mulheres em todo o mundo fazem abortos!
- Quais são as variantes que podem contribuir para que te sintas angustiada depois de um aborto?
As tuas hormonas estão a mudar e a voltar aos níveis que tinhas antes da gravidez. Esta mudança química pode causar-te sentimentos de tristeza e de choro, o que não implica que precises de um psicólogo após o aborto.
- Alguém pode ter-te forçado a fazer um aborto em vez de deixar-te tomar a decisão a decisão sozinha;
- Podes não ter muito apoio da tua família ou amigos;
- Podes estar a sentir-te dividida no teu interior em relação à decisão de fazer um aborto;
- Podes estar a sentir-te abandonada e sozinha;
- Talvez estivesses à espera que o homem que te engravidou quisesse ter um filho contigo, mas ele não quer e isso contribui para a tua tristeza;
- É provável que sintas falta de amor-próprio e com frequência te sintas mal em relação a ti mesma;
- Outros aspetos da tua vida poderão estar a sobrecarregar-te com stress: a escola, o teu trabalho, os teus filhos, etc.
- É normal sentir se deprimida depois de um aborto?
Em casos raros, as mulheres apresentam uma depressão clínica depois de fazer um aborto. Se te sentires com sintomas de depressão, deverás então procurar a ajuda de um profissional e ir a um psicólogo depois do aborto. A depressão é uma doença muito séria. É importante que procures ajuda de um profissional como a de um médico, psicólogo ou terapeuta.
- O que é o “Síndrome pós-aborto”?
A maioria das mulheres que têm abortos ficam com pouco ou nenhum dano psicológico. Contudo, muitas pessoas que se opõem ao aborto afirmam que uma mulher que tenha feito um aborto irá sofrer de um tipo de stress pós-traumático chamado “Síndrome pós-aborto”.
Grande parte dos psiquiatras dúvida da existência do “Síndrome pós-aborto” e indicam que o aborto não é diferente de alguma outra experiência stressante pela qual algumas pessoas passam.
- Que posso eu fazer para ajudar-me a recuperar depois de um aborto?
As seguintes sugestões poderão ajudar-te a aceitar e a lidar com as tuas emoções e assim fazer com que os teus sentimentos de tristeza desapareçam.
- Permite-te a ti mesma exprimir a tristeza e mágoa. Isso vai ajudar-te a fazer com que essas sensações de mágoa e tristeza diminuam;
- Não sejas dura contigo mesma;
- Não te esqueças que és corajosa e que tomaste uma decisão difícil;
- Lembra-te do motivo que te levou a tomar a decisão de fazer um aborto;
- Escreve os teus sentimentos num diário ou livro especial que mais ninguém veja;
- Pratica exercícios de relaxamento para ajudar-te a lidar com o stress.
Mulheres diferentes têm sentimentos e experiências diferentes em relação ao aborto. Estudos mostram que as mulheres não sofrem durante muito tempo pelos abortos que optaram por fazer.
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Este é provavelmente um dos aspetos mais delicados do tema do aborto. Neste tópico irás encontrar alguns dos pontos mais importantes sobre as sensações psicológicas após um aborto.
1º – É difícil decifrar os sentimentos de cada mulher relativamente ao aborto
Segundo Major et al., 2019,[1] o aborto engloba um conjunto diverso de experiências, e que as reações perante este evento diferem significativamente de mulher para mulher. Segundo a mesma publicação, se quisermos entender as implicações que um aborto pode ter na saúde mental de uma mulher, sendo então essencial perceber os contextos pessoais, sociais e culturais que se encontram na origem desta variedade de sentimentos. Com isto pretendemos dizer que cada mulher terá reações diferentes de acordo com as circunstâncias que a levaram a realizar o aborto.
Emotions throughout the abortion journey are ever changing. The way women experience abortion depends on complex processes that integrate multidimensional determinants of emotional, physical, cultural, psychosocial and psychological aspects.
Astbury-Ward, 2008[2]
Para Astbury-Ward, 2008, tentar descobrir a experiência de aborto de uma mulher é o mesmo que tentar entender aquilo que um paciente quer dizer quando lhe é pedido para descrever a dor; este poderá explicar através de uma série de palavras que podem ser percebidas facilmente, mas nós nunca compreenderemos completamente a experiência da outra pessoa tal como ela a sente. Apenas nos resta tentar interpretar da melhor maneira.
2º – As opiniões externas jogam um papel importante nos sentimentos da mulher
A sociedade em que vivemos atribui à mulher o papel de mulher casada e mãe, afastando, de certa forma, a oportunidade de que uma mulher opte por viver uma vida sem filhos ou pelo menos numa fase mais tardia. Muitas pessoas poderão não perceber, mas esta imposição da sociedade acaba por acrescentar uma grande pressão no momento da tomada da decisão.
(…) the stigma associated with abortion militates against women’s disclosure.
Boorer et al., 2001 apud Astbury-Ward, 2008
A sociedade defende que a gravidez é uma alegria e que objetivo principal é a proteção do bebé. De facto, Rando (1986) apud Astbury-Ward, 2008 defende que o aborto é uma “perda socialmente rejeitada”; isto é, o aborto não é socialmente aceite. A consequência desta ideia-padrão é o isolamento da mulher, que acaba por não expressar as suas emoções como talvez desejasse. Com isto, a mulher poderá vir a sentir vergonha e culpa.[3]
3º – A existência da Síndrome pós-aborto não se encontra comprovada
Diz-se que após um aborto, a mulher encontra-se mais suscetível àquilo que é chamado de síndrome pós-aborto, conceito que, segundo Zanello et al., 2016[4], tem como finalidade atribuir danos psicológicos ou psiquiátricos frequentes, graves e permanentes à realização de um aborto.
Enquanto uns defendem a existência deste evento, outros partilham a ideia que este conceito não passa de um mito, dado que a comunidade científica internacional rejeita o reconhecimento da sua existência (Stotland, 1992 apud Zanello et al., 2016). Esta dualidade de opiniões entre autores poderá ter como alicerce as posições de cada uma das partes: pró-vida (contra o aborto) vs pró-escolha (a favor do aborto)[5].
De facto, Patrão et al., 2008[6], defende que consequências psicológicas da IVG (interrupção voluntária da gravidez) não devem ser vistas unicamente como resultado do ato de abortar, pois, e nas palavras dos autores, “na maioria dos casos, as consequências psicológicas da IVG tendem a ser mais positivas que negativas”.
De forma resumida, os sentimentos menos positivos que uma mulher possa vir a ter podem estar sim relacionadas com a terminação da gestação, mas tal não provoca danos psicológicos graves e permanentes tal como indica o conceito de síndrome pós-aborto. Assim sendo, é possível relacionar esta experiência com uma outra qualquer cujo nível de stress seja alto.
(…) there is no evidence that abortion leads to psychological damage.
Lee et al., 1997
4º – Os sentimentos mais negativos tendem a diminuir após o aborto
In a recent study of women undergoing first trimester abortion, at two-year follow-up 70-75% of the women were satisfied with the abortion, would decide to have the abortion again and attributed more positive than negative outcomes to it. 1% evidenced post-traumatic stress disorder. For the vast majority of women in the long-term, self-esteem increased and depression declined after the procedure.
Cozzarelli, et. al. (2000) apud ASTRA[7]
Como seria de esperar, para além de carregar o peso da decisão de um aborto (e uma possível indecisão – já que a mulher poderá eventualmente desejar ser mãe, mas a situação económica, financeira, amorosa, entre outras poderá não ser a mais favorável) e a dúvida em relação ao desconforto físico que um aborto pode acarretar, não será surpresa nenhuma que a paciente acabe por sofrer mais stress e ansiedade ao considerar o estigma em torno deste tema.
Em alguns casos a reação mais comum é de alívio. Isto porque a decisão já foi tomada e o processo já chegou ao fim. Noutros casos, e como já foi referido, podem ser expectáveis sensações depressivas e alguma tristeza, porém, estas sensações não podem ser confundidas como um sinal de que a mulher tomou a decisão errada. Se realmente desejares levar a cabo o aborto, então toma o teu tempo e cuida de ti. A sensação de tristeza irá desvanecer-se.
Não obstante, os sintomas de depressão não podem ser ignorados. Se te sentires muito em baixo (nomeadamente se já tinhas antecedentes de depressão) e com sintomas que ultrapassam a tristeza, é fulcral que procures ajuda médica que te possa ajudar a ultrapassar esta fase. Um psicólogo ou um terapeuta poderão ser uma mais-valia para que possas manter o teu bem-estar depois do procedimento.
Documentos para download:
Referências:
[1] Major B, Appelbaum M, Beckman L, Dutton M, Russo N, West C. Abortion and Mental Health. American Psychological Association, 2009. Disponível em: https://www.apa.org/pubs/journals/features/amp-64-9-863.pdf
[2] Astbury-Ward E. Emotional and psychological impact of abortion: a critique of the literature. J Fam Plann Reprod Health Care, 2008. Disponível em: https://www.academia.edu/164773/Emotional_and_psychological_impact_of_abortion_a_critique_of_the_literature
[4] Zanello V, Porto M. Aborto e (não) desejo de maternidade(s): questões para a Psicologia. Conselho Federal de Psicologia, 2016. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2016/11/CFP_Livro_Aborto-2.pdf
[5] Cosme M, Leal I. Interrupção voluntária da gravidez e distúrbio pós-traumático de stress. Análise Psicológica, 3 (XVI): 447-462, 1998. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v16n3/v16n3a11.pdf
[6] Patrão I, King G, Almeida M. Interrupção Voluntária da Gravidez: Intervenção psicológica nas consultas prévia e de controlo. Aná. Psicológica v.26 n.2 Lisboa, 2008. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v26n2/v26n2a15.pdf
[7] “Post Abortion Syndrome” or “PAS”: A strategic fabrication to degrade women’s rights. ASTRA – Central and Eastern European Women’s Network for Sexual and Reproductive Health and Rights. Disponível em: http://astra.org.pl/pdf/publications/tool4.pdf
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