Uma infeção depois de um aborto é um evento raro. Alguns sintomas que indicam a existência de uma infeção após o aborto são:
- Se vários dias após teres realizado o procedimento sentires fraqueza, náuseas, vontade de vomitar ou diarreia.
- Febre que dure mais de 24 horas ou que seja superior a 38º C;
- Dores no abdómen, barriga dorida ou sensível (vários dias após ter feito o aborto);
- Apresentar um corrimento vaginal com odor desagradável (vários dias após ter feito o aborto).
No caso de febre que comece logo depois de usar o Misoprostol (Cytotec – 200mcg), e que dure menos de 24 horas sendo inferior a 38º C, é um efeito secundário normal. Se a febre durar mais do que 24 horas ou for superior a 38º C, então deverás procurar um médico.
As infeções após os abortos químicos são muito raras. Se suspeitares que tens uma infecção deverás então consultar um médico imediatamente. Esta deverá ser tratada com antibióticos.
Os abortos químicos são uma alternativa mais segura em lugares onde os métodos cirúrgicos são perigosos para a saúde da mulher, ou em lugares onde a disponibilidade de abortos seguros é restrita.
A título de comparação, o risco de uma infeção é maior quando uma mulher tem um filho (parto normal) do que quando faz um aborto químico.
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Uma infeção é uma ação mórbida originada por agentes microbianos patogénicos introduzidos no organismo[1], isto é, acontece quando o organismo reage à entrada de micro-organismos (vírus, parasitas, bactérias ou fungos). Trata-se de uma situação recorrente no dia-a-dia, porém, no caso do aborto é diferente.
Relativamente a uma infeção no aborto, de acordo com Campos do Amaral et al., 2013:
O abortamento infetado ou séptico decorre da eliminação incompleta do ovo, do embrião ou da placenta que mantém aberto o canal cervical, favorecendo a ascensão de bactérias da microbiota vaginal* e intestinal à cavidade uterina e é caracterizado por febre, endometrite e parametrite.
*Microbiota vaginal: flora vaginal
Uma infeção que surja após a terminação de uma gravidez é rara. Segundo a Direção Geral da Saúde Portuguesa, a incidência de infeção após interrupção da gravidez médica ou cirúrgica varia entre 0,9% e 2,5%.
Esta ocorrência manifesta-se através dos seguintes sintomas físicos:
- Dor abdominal (ou maior sensibilidade na barriga)
- Contratilidade uterina (de intensidade crescente)
- Febre (que dure mais de 24 horas ou que seja superior a 38º C)
- Corrimento vaginal com cheiro desagradável
Sentir estes sintomas deverá ser um indicativo para que procures ajuda médica.
A infeção é definida por[2]:
- Endometrite – processo inflamatório do endométrio (revestimento do interior do útero). Carateriza-se pela presença de quadro febril, associado ou não, à dor pélvica e hemorragia;
- Sépsis – trata-se da resposta inflamatória associada à infeção. Implica internamento e antibioterapia endovenosa;
- Choque tóxico – entidade rara e potencialmente fatal com evolução rápida de falência multiorgânica;
A bactéria Clostridium Sordellii encontra-se relacionada com a síndrome de choque tóxico fatal, associada ao parto natural ou ao aborto induzido.[3]
Clostridium Sordellii: patogéneo humano raro que tem sido apontado como a causa da pneumonia, endocardite, artrite, peritonite e mionecrose.
Em determinadas circunstâncias esta bactéria pode multiplicar-se e provocar uma infeção geral do organismo, gerando toxinas que provocam um quadro de choque tóxico, porém, a síndrome de choque tóxica fatal detetada em pessoas saudáveis foi descrita apenas numa pequena fração dos casos de infeção por C. Sordellii, estando, na maioria dos casos, associada a infeções ginecológicas e onfalite neonatal.
A gravidez, parto ou o aborto podem criar uma maior predisposição para adquirir C. Sordelli no canal vaginal, graças à dilatação do colo do útero que permite a infeção de forma ascendente.
Médicos analisaram um caso que envolvia uma mulher que faleceu vítima de complicações associadas à infeção Clostridium Sordellii, e determinaram que, embora a infeção estivesse associada ao aborto químico, o caso não altera a já provada segurança dos abortos químicos induzidos com Misoprostol (Cytotec – 200mcg)[4].
A Clostridium Sordellii pode também causar infeções fatais em mulheres que tenham acabado de dar à luz. Assim sendo, não é uma infeção que afete apenas mulheres que tenham feito abortos químicos. A Clostridium Sordellii chama especificamente a atenção pelos seus não usuais e mais característicos sintomas – a ausência de febre, mas com a presença de hipotensão refratária, hemoconcentração, derrames em múltiplas cavidades aquosas, e leucocitose profunda.
(…) serious infection can occur after medically induced abortion, much as it can occur after childbirth, spontaneous abortion, and surgical abortion. However, available data suggest that the risk of such infection is low.
Fischer et al., 2005[5]
Resumindo, estudos publicados confirmam que a presença desta bactéria poderá eventualmente estar relacionada com a realização de um aborto (e não só: o parto também poderá ter ligação com este acontecimento) porém, embora fatal, a sua incidência é bastante baixa e não altera a eficácia do aborto realizado com fármacos.
Embora muito raro, o choque tóxico por Clostridium Sordellii está descrito em 1 por cada 100 000 IG (…)
Norma da Direção-Geral da Saúde, 2013
Se sentires que algo não está bem e que tens os sintomas que referimos no início deste tópico, então terás de obter ajuda médica o mais depressa possível. Embora seja uma ocorrência altamente rara, é necessário prestar atenção aos sinais e tomar cuidado para que possas garantir a tua saúde.
Realçamos que, após o aborto não é aconselhável usar tampões para a absorção do sangramento que ainda se fará sentir. Aconselhamos apenas o uso de pensos higiénicos. Da mesma forma, deverás evitar ter relações sexuais logo após o aborto, não só pela probabilidade de voltar a engravidar, mas porque após o procedimento o colo do útero poderá estar ainda ligeiramente dilatado e o contacto sexual poderá aumentar o risco de infeção. Espera entre pelo menos de 4 a 7 dias para voltar à tua rotina sexual.
Lê mais aqui: Relações sexuais após o aborto.
Documentos para download:
Rferências:
[1] Infeção in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/infeção
[2] Norma da Direção-Geral da Saúde. 2013. Disponível em: http://www.spp.pt/UserFiles/file/EVIDENCIAS%20EM%20PEDIATRIA/NORMA%20001.2013.pdf
[3] Murray P, Rosenthal K, Pfaller. M.Microbiologia Médica. 7ª Edição – Rio de Janeiro :Elsevier, 2014. Disponível em: https://books.google.pt/books?id=dDgcBgAAQBAJ&pg=PA338&lpg=PA338&dq=choque+toxico+associado+a+Clostridium+sordellii+aborto&source=bl&ots=6zavXM3SYq&sig=ACfU3U3EatWXCOOsbC7J5GJPXovQvm6RKw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiAhr3AoZPhAhVFOhoKHXpXBTgQ6AEwAXoECAkQAQ#v=onepage&q=sordellii%20&f=false
[4] Wiebe E, Guilbert E, Jacot, F, Shannon C, & Winikoff, B. A Fatal Case of Clostridium Sordellii Septic Shock Syndrome Associated with Medical Abortion. Obstetrics and gynecology, 104(5 Pt 2):1142-4, 2004. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/8204793_A_Fatal_Case_of_Clostridium_sordellii_Septic_Shock_Syndrome_Associated_With_Medical_Abortion
[5] Fischer M, Bhatnagar J, Guarner J, Reagan S, Hacker JK, Van Meter SH, Poukens V, Whiteman DB, Iton A, Cheung M, Dassey DE, Shieh WJ, Zaki SR. Fatal Toxic Shock Syndrome Associated with Clostridium Sordellii after Medical Abortion. N Engl J Med. 2005. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa051620
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