É vital que antes da utilização de qualquer tipo de medicamento sejam avaliadas as condições em que tal pode ser utilizado. O mesmo acontece com o Misoprostol (Cytotec – 200mcg). Devido às suas caraterísticas e aos efeitos secundários que podem ocorrer, é essencial que você leia com atenção as seguintes precauções, assim ficará a saber quando não usar o Misoprostol.
Você não poderá realizar o aborto medicinal nos seguintes casos:
Existência de gravidez ectópica:
É uma gravidez de alto risco. Ocorre quando o óvulo fertilizado é implantado fora da cavidade uterina. O uso do Misoprostol não irá piorar nem tratar a gravidez ectópica, mas também não irá provocar o aborto, visto que o princípio ativo tem efeito no útero. Se a gravidez ocorrer fora da cavidade uterina, isso quer dizer que o fármaco não irá induzir a interrupção da gestação[1]. Este tipo de situações requere intervenção médica, sendo tratada mesmo em países com leis restritivas perante o aborto.
Consulte o link: Gravidez Ectópica
Obrigação de fazer um aborto:
Existem relatos de mulheres que procederam à interrupção de um aborto devido a pressões externas, nomeadamente por parte do conjugue/companheiro que muitas vezes recorre à pressão psicológica e até à intimidação física porque não quer assumir a paternidade da criança que está para nascer. Com medo de ser vítima do desprezo ou das atitudes agressivas do parceiro, a mulher acaba por aceder à sua vontade.
Noutros casos o homem não quer usar preservativo, deixando nas mãos da mulher a responsabilidade de não engravidar. Se for difícil ou até impossível para a mulher adquirir outro tipo de método contraceptivo, como por exemplo a pílula, ela corre o risco de engravidar. Se o homem não quiser este filho e obrigar a mulher a interromper a gravidez, é muito provável que o medo a faça avançar com aquilo que lhe é imposto pelo parceiro.[2]
Este tipo de casos ocorre, nomeadamente, em situações de pobreza e quando a mulher já tem filhos e/ou tem um trabalho mal remunerado ou se encontra desempregada. Na falta de condições de poder sair de casa à procura da sua liberdade, porque lhe foi incutido que enquanto mulher tem de satisfazer o seu parceiro ou até porque sente que o ama incondicionalmente, a mulher acaba por aceder às ordens do marido, talvez até contra a sua vontade.
É importante que você perceba que a decisão tem de partir das suas vontades e dos seus desejos. Enquanto mulher, as opiniões que você tem sobre o seu próprio corpo também contam, por isso, não tome uma decisão destas se você estiver sendo forçada a tal. Se você for vítima de violência doméstica, não cale. Tente arranjar o máximo de ajuda possível para que seja possível deixar para trás essa fase da sua vida. É importante mencionar que a violência não acontece apenas na forma física; a violência psicológica e sexual também são crimes contra a mulher.
Você não tem de continuar nessa situação. Lute por você e pela sua felicidade.
Neste mesmo contexto, se ainda persistirem dúvidas sobre o que você deseja fazer relativamente à sua gestação, então pense melhor sobre o assunto. Não avance com o aborto se você ainda não tiver certeza. Realçamos, mais uma vez: analise aquilo que lhe rodeia, o seu presente e aquilo que você quer para o seu futuro. Pese todos os prós e contras e se precisar, converse com alguém que lhe possa dar um conselho e apoio moral. Quando tiver a certeza da sua decisão, e se esta passar por fazer um aborto, então aqui estaremos para ajudar.
Tempo máximo de gravidez excedido:
Se o primeiro dia do seu ciclo menstrual ocorreu há mais de 12 semanas, não será possível proceder a um aborto medicinal, visto que os riscos aumentam à medida que o tempo avança. Existem casos em que a mulher realiza o aborto entre as 12 e as 14 semanas, mas tal não é aconselhado.
Existência de DIU:
Se a paciente tiver um DIU (Dispositivo Intrauterino), então este terá de ser removido antes de proceder ao aborto. O DIU é um contraceptivo que aumenta o risco de que se desenvolva uma gravidez ectópica. [3]
Falta de meios para chegar a uma unidade de saúde:
O aborto medicinal é um método seguro, no entanto, por uma questão de segurança, é importante que o lugar onde este for feito fique a menos de uma hora de distância de um hospital, centro de primeiros socorros ou serviço de urgências onde possam lhe atender se precisar de ajuda médica.
Embora a grande vantagem do aborto médico seja o facto de poder ser feito no conforto e na privacidade do lar, nos aconselhamos vivamente a pedir a alguém de confiança que fique com você durante todo o processo. Desta forma, se precisar de alguma coisa ou até de auxílio médico, essa pessoa estará lá para lhe ajudar.
Alergia às prostaglandinas:
Se você for alérgica ao Misoprostol ou às prostaglandinas, o aborto medicinal fica completamente fora de questão. Um estudo publicado em 2018 com um caso real mostra que as reações alérgicas mais visíveis são urticária e angioedema.[4]
Existência de doenças:
Pacientes com porfirias hereditárias, doenças hemorrágicas e insuficiências hepáticas graves não deverão proceder ao aborto farmacológico dado que a concentração máxima e AUC podem chegar a duplicar em pacientes com este perfil.[5] É muito improvável possuir estas condições médicas sem ter conhecimento de tal.
Se você tiver problemas intestinais, como por exemplo, a doença inflamatória intestinal ou até diarreia derivada de condições como a doença de Crohn, colite ulcerativa ou síndrome do intestino irritável, será impossível realizar o aborto medicinal com Misoprostol. As prostaglandinas são conhecidas pela forma como interferem com o transporte intestinal de fluidos e eletrólitos[6], desta forma, inclui-se também nesta lista as pessoas que sofrem de quadro de desidratação.
O Misoprostol também se encontra contraindicado nos casos de casos de AVC ou mini AVC.
Documentos para download:
First-trimester abortion in women with medical conditions
INFLUÊNCIA DA VIOLÊNCIA CONJUGAL SOBRE A DECISÃO DE ABORTAR
CYTOTEC® 200 mcg (Misoprostol) Tabletas
Package leaflet: Information for the patient
MISOPROSTOL Misoprostol Tablets 100mcg and 200mcg
Diagnosis and Management of Ectopic Pregnancy
Referências:
[1] Fiala C, Cameron S, Carmo-Bombas TA, Gemzell-Danielsson K, Parachini M, Shojai R, Sitruk-Ware R. Early medical abortion a practical guide for healthcare professionals. 2012. Disponível em: https://www.spdc.pt/files/publicacoes/Early_medical_abortion.PDF
[2] Costa Souza VL, Ferreira SL. Influência da violência conjugal sobre a decisão de abortar. R. Bras. Enferm, Brasília, v 53, n.3, p. 375-385, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v53n3/v53n3a05.pdf
[3] Zucchi RM, Elito Jr J, Zucchi F, Camano L. Gravidez Ectópica após Uso de Contracepção de Emergência: Relato de Caso. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 26(9), 2004 Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/237263501_Gravidez_ectopica_apos_uso_de_contracepcao_de_emergencia_relato_de_caso
[4] Shin HJ, Lee SR, Roh AM, Lim YM, Jeong KA, Moon HS, Chung HW. Anaphylactic shock to vaginal misoprostol: a rare adverse reaction to a frequently used drug. Obstet Gynecol Sci. 2018 Sep; 61(5): 636–640. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6137020/
[5] Folleto de información al profesional alumbra comprimidos 25mcg. Disponível em: http://www.ispch.cl/sites/default/files/alumbra_25mcg.pdf
[6] Chassany O, Michaux A. Drug-Induced Diarrhoea. Drug Safety 22(1):53-72, 2000. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/12666553_Drug-Induced_Diarrhoea
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