Aborto medicinal após 09 semanas?

[…] women should never attempt second trimester abortion on their own with any drug or device, as the risk of problems, especially with bleeding, increases with the number of weeks of pregnancy.

Reproductive Health Matters, 2005[1]

O aborto medicinal é geralmente feito em gestações muito iniciais, numa fase em que a bolsa que contém o embrião e a placenta ainda não tenham ainda dimensões perceptíveis. Porém, a sua eficácia tem vindo a ser comprovada em gestações acima das 9 semanas.

De acordo com Ameh, 2012, o aborto medicinal é eficaz até às 24 semanas de gestação. Porém, o risco de complicações é mais baixo durante o primeiro semestre e, se a mulher deseja interromper a gravidez, então quanto mais cedo o fizer, melhor. Até às 12 semanas é possível realizar o aborto com comprimidos de forma segura, em casa. Já a partir do segundo trimestre este procedimento não é aconselhado. Isto é, é possível interromper uma gravidez recorrendo a comprimidos, porém, o mais adequado será que a mulher termine a gravidez numa clínica.[2]

Segundo dados de 2015 do Pew Research Centre[3], aproximadamente 96% dos países permite que as mulheres interrompam uma gravidez quando a saúde delas se encontra em perigo (análise realizada com base em 196 países e com dados de 2013 das Nações Unidas). Em países da América Latina, por exemplo, verificam-se grandes restrições ao procedimento.

Imagem 1 – Oposição generalizada ao aborto legal[4]

Segundo dados da mesma fonte, em grande parte dos países latino-americanos existe uma ideia generalizada entre as populações de que o aborto deveria ser considerado ilegal em todas as circunstâncias, ao contrário dos americanos, cuja maioria considera que o aborto deveria ser legal em todos ou na maioria dos casos.

Esta situação gera um grande problema, pois, neste tipo de casos onde para além do escrutínio público, a mulher ainda corre o risco de enfrentar a justiça por levar a cabo um procedimento que pode ser considerado ilegal no seu pais. Algo extremamente injusto, pois, a decisão de um aborto não afeta ninguém; ao mesmo tempo cria-se um problema ainda maior porque, ao não ter mais hipóteses e ao cair no desespero, a mulher vê-se obrigada a acabar com a gravidez através de práticas perigosas como a introdução de objetos afiados na vagina, ingestão de produtos químicos tóxicos ou ao dar murros na barriga.

É, portanto, pertinente dizer que o aborto medicinal com Misoprostol (Cytotec – 200mcg) é mais seguro do que a realização do procedimento através de técnicas ou métodos perigosos. Isto, é claro, desde que a mulher siga as instruções tal como já as indicamos aqui nos nossos serviços.

Documentos para download:

Medical Abortion: A Fact Sheet. Reproductive Health Matters

Abortion. Charles A. Ameh. GYNECOLOGY FOR LESS-RESOURCED LOCATIONS

Referências:

[1] Medical Abortion: A Fact Sheet. A Fact Sheet, Reproductive Health Matters, 2005. 13:26, 20-24 Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1016/S0968-8080%2805%2926212-2

[2] Beekhuizen H, Unkels R. Gynecology for less-resourced locations. 2012. Disponível em: https://www.glowm.com/pdf/Chap-13_Ameh.pdf

[3] Worldwide Abortion Policies. Pew Research Center. 2015. Disponível em: https://www.pewresearch.org/interactives/global-abortion/

[4] RELIGION IN LATIN AMERICA. Chapter 5: Social Attitudes. Pew Research Center, 2014. Disponível em: https://www.pewforum.org/2014/11/13/chapter-5-social-attitudes/#views-on-abortion