Serei feliz após o aborto?

Num estudo publicado em 2014[1], onde é comparado o nível de autoestima de mulheres a quem lhes foi negado um aborto por terem ultrapassado o tempo máximo de gestação e cuja criança nasceu (Turnaway Births) ou cuja gravidez não foi ao fim porque a mulher teve um aborto espontâneo/porque obteve o aborto noutro lugar (Turnaway No Births), mulheres que estavam no limite, mas que ainda conseguiram realizar o aborto (Near Limit Abortions), e mulheres que realizaram a cedo a terminação ainda dentro do primeiro trimestre (First Trimesters), concluiu-se que é mais prejudicial para a autoestima de uma mulher que lhe seja negada uma interrupção da gravidez do que levar efetivamente a cabo dito procedimento.

Os autores destacam que um aborto é um evento que afeta emocionalmente, mas que não existe nenhuma evidência ou razão para acreditar que possa causar danos à autoestima a curto ou longo prazo. A maior parte das mulheres expressa sensações de alívio relativamente ao aborto, ao contrário das mulheres a quem lhes foi negada a interrupção da gravidez, que neste estudo mostraram sentimentos de arrependimento, raiva e pouco alívio ou felicidade do que aquelas que fizeram o aborto.

For the vast majority of women, an abortion will be followed by a mixture of emotions, with a predominance of positive feelings.

National Abortion Federation, 1999[2]

É normal que você acabe criando uma expetativa em torno daquilo que serão os seus sentimentos após o aborto, principalmente se esta é a primeira vez. É comum que que você ouça opiniões e comentários exteriores que deem a entender que a mulher sofre psicologicamente depois de um aborto e, que você queira acreditar ou não, é uma ideia que fica na cabeça.

Você precisa de entender uma coisa: ninguém pode adivinhar aquilo que cada mulher sente depois de induzir o fim de uma gravidez, muito menos criar um único conceito-padrão que se aplique à generalidade do universo feminino, porque a verdade é que cada mulher conhece os seus motivos e tem a sua própria forma de reagir perante uma determinada situação. Afirmar que uma mulher irá sofrer ou que se irá arrepender após uma decisão desta magnitude é, por vezes, uma maneira de a fazer mudar de ideias. O que acontece é que, ao tentar impor uma determinada ideia numa mulher que quer abortar, o resultado acaba por ser a repressão das suas próprias ideias e emoções. A gestante deixa de pensar nos seus objetivos e nas suas motivações para induzir uma IVG achando que está errada, sabendo, no fundo, que não quer continuar com a gestação. Quando tem a criança, ela se apercebe que se está arrependida, porque aquilo que a faz sentir em baixo não é a criança em si, mas as condições em que a trouxe ao mundo (e que as fizeram desejar o aborto). Isso pode trazer sentimentos de baixa autoestima. Biggs et al., 2014 refere que a ideia de que um aborto diminui a autoestima de uma mulher tem sido parcialmente usada como alicerce a favor de uma legislação que visa restringir o acesso ao aborto.

O nosso intuito não passa por fazer com que você faça um aborto em vez de continuar a gravidez. O nosso intuito passa sim por fazer com que você entenda que o facto de ter a certeza do que se quer é um grande passo para garantir a sua felicidade no futuro. Uma decisão informada é valiosa, e por isso aconselhamos que você investigue tudo o que precisa de saber sobre um aborto medicinal, assim será possível saber quais são os passos a tomar.

Passe pela nossa secção de dúvidas Dúvidas para que fique sabendo o máximo possível sobre o aborto medicinal.

• Se alguém estiver obrigando você a fazer um aborto, mas na realidade você não quer e até deseja ter o filho, então não realize o aborto. Não se esqueças que o corpo é seu e que a decisão é sua. Ninguém pode obrigar você a interromper uma gestação pois apenas você sabe o que é melhor para a sua vida.

• Da mesma forma ninguém pode obrigar você a levar a gestação até ao fim pelas razões que já indicamos anteriormente. Se neste momento você não pretende, ser mãe então a decisão de abortar é sua.

• Se você já ultrapassou o limite máximo de 12 semanas e já não é mais possível realizar o aborto, mas continua a não querer ter este filho, então aconselhamos a ponderar o aborto cirúrgico (no estrangeiro, caso o seu país possua leis restritivas) ou até a adoção.

Se a sua decisão pelo aborto for definitiva, então você tem tudo para ser feliz. Como já referimos previamente, a grande maioria das mulheres relata sensações de alívio que serão sinônimos de satisfação e felicidade. Não se esqueça que mesmo após o aborto, o seu corpo ainda possuis hormônios da gravidez que levarão uns dias para estabilizar e que isto poderá influenciar as sensações do pós-aborto. Não fique agitada e dê ao seu corpo o tempo que ele precisar para voltar ao normal.

Tópicos relacionados:

Razões para fazer um aborto

Preciso de um psicólogo depois de um aborto?

Stress depois de um aborto

Documentos para download:

Post-Abortion Issues. National Abortion Federation

Does abortion reduce self-esteem and life satisfaction?

Referências:

[1] Biggs MA, Upadhyay UD, Steinberg JR, Foster DG. Does abortion reduce self-esteem and life satisfaction? Qual. Life Res., 2014. 23:2505–2513. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4186981/pdf/11136_2014_Article_687.pdf

[2] Post-Abortion Issues. National Abortion Federation. Disponível em: https://5aa1b2xfmfh2e2mk03kk8rsx-wpengine.netdna-ssl.com/wp content/uploads/post_abortion_issues.pdf