Aaspiração a vácuo é um procedimento clínico para esvaziar o conteúdo uterino. É recomendado no tratamento do aborto incompleto. A maioria das mulheres que procuram atendimento para as complicações do aborto fazem-no por terem sofrido um aborto incompleto.
A aspiração a vácuo é um procedimento clínico simples e seguro para esvaziar o conteúdo e uterino
O aborto incompleto ocorre quando o útero não foi completamente evacuado e ainda contém tecidos e restos da gestação.
Se não for corretamente tratado, o aborto incompleto poderá causar uma hemorragia ou infecção que podem ter como resultado a morte da mulher. Em quase todos os casos, a aspiração a vácuo com anestesia local é o tratamento mais adequado para as complicações pós-aborto.
Trata-se de uma tecnologia inovadora e eficiente que consiste na sucção do conteúdo uterino através de um aspirador a vácuo que se encontra ligado. A aspiração a vácuo tem sido muito usada como uma alternativa segura e eficaz à curetagem uterina.
Eis a seguir algumas das vantagens da aspiração a vácuo:
- É facilmente aceite pelos médicos;
- Constitui um maior conforto para a paciente;
- Requer apenas anestesia local;
- Possui um menor tempo de recuperação.
A aspiração a vácuo também reduz o risco de complicações durante o tratamento, com muito menos complicações do que a curetagem uterina.
AMPLIA OS TEUS CONHECIMENTOS
O tratamento do abortamento tradicionalmente se faz por esvaziamento da cavidade uterina mediante curetagem, com ou sem dilatação cervical mecânica, sob narcose, requerendo o internamento das pacientes por várias horas. Os riscos inerentes à anestesia e ao esvaziamento uterino, bem como a maior exposição das pacientes sob permanência prolongada a infecção, podem contribuir para aumento da morbidade materna, elevando os custos hospitalares.
Reginaldo de Holanda et al., 2003[1]
Para além da curetagem (ver mais aqui: Curetagem após o aborto) e dentro das técnicas de esvaziamento uterino, temos ainda a aspiração a vácuo. Trata-se de uma técnica que recorre à sucção – manual ou elétrica – do conteúdo intrauterino. É usado nos casos de aborto incompleto, isto é, quando se verifica que existem restos da gestação já terminada dentro do corpo da mulher.
É usado também para induzir abortos de primeiro trimestre e biópsias de endométrio[2].
Quais são os tipos de aspiração intrauterina?
Among various methods of all first trimester MTP procedures MVA (manual vacuum aspiration) is the best because of its simplicity easily transportable inexpensive, no need of electricity and decrease the need of manpower to handle electric pump.
Manjula et al., 2016[3]
Este tipo de procedimento pode ser realizado através de dois métodos que partilham o mesmo mecanismo de ação. São estes:
- Aspiração Manual Intrauterina – AMIU (em inglês: MVA)
É realizado com recurso a um dispositivo que realiza a sucção dos produtos remanescentes dentro do corpo da mulher. Uma das grandes vantagens deste método é precisamente a sua simplicidade. Não precisa de energia e é portátil. Por conseguinte, não ocupa grandes espaços visto que o equipamento se resume a dispositivo que mostramos na imagem 1.
Países cujos serviços hospitalares/de emergência possuam escassos recursos poderão considerar este método uma mais-valia, visto que acarreta menos custos para o serviço em questão.
Imagem 1 – Instrumento de aspiração Manual a vácuo[4].
Segundo o Reproductive Health Supplies Coalition[5] , existem evidências que provam que a aspiração manual não exige conhecimentos avançados relativamente à forma como deve ser aplicado, conseguindo manter-se à altura no que diz à satisfação dos pacientes e prestadores de serviços. Desta forma, parteiras, enfermeiros, médicos assistentes, entre alguns outros profissionais médicos, poderão realizar o procedimento de forma segura e eficaz.
- Aspiração Elétrica Intrauterina – AEIU (em inglês: EVA)
É usado um dispositivo semelhante ao da aspiração manual, porém este método exige a ligação a uma máquina que, por conseguinte, precisa energia elétrica para funcionar.
Imagem 2 – Exemplo de um aparelho para aspiração elétrica[6].
Como é realizado?
De uma forma muito simples, ilustramos a seguir aquilo que acontece numa aspiração a vácuo[7]:
- Em primeiro lugar o médico realizará um exame pélvico para complementar a avaliação clínica inicial. Se necessário, o profissional administrará medicação para a dor.
- Ser-te-á inserido um espéculo na vagina e posteriormente o médico irá aplicar solução antisséptica para desinfetar o colo do útero.
- Nesta fase, se necessário, o médico irá proceder a aplicação de anestesia local.
- De seguida, se o médico achar que o teu canal cervical não está suficientemente dilatado, poderá ser necessário avançar para a sua dilatação. Isto acontece porque é necessário que exista um espaço suficientemente amplo que permita a passagem da cânula através da qual irá ser feita a aspiração.
- Depois da dilatação (se aplicável), seguir-se-á a introdução da cânula. Esta terá de ser realizada de forma suave e não forçada.
- Já por último, ser-te-á feita a aspiração propriamente dita.
Algumas considerações adicionais:
- Os procedimentos pelos quais uma paciente poderá ser submetida poderão não estar limitados única e exclusivamente aos que aqui mencionamos. Cada caso é um caso e o profissional responsável por ti poderá considerar adequado aplicar métodos adicionais. Aqui falamos apenas do procedimento de forma geral para que tenhas uma ideia dos passos.
- Esclarece todas as dúvidas que tiveres. Se achas que não percebeste alguma coisa, não fiques na dúvida e questiona. Não há nada de errado em querer saber quais são os procedimentos que um médico irá realizar no nosso corpo.
- Se sentires algum tipo de dor ou incómodo, diz ao médico. Os profissionais de saúde são competentes e cuidadosos, mas eles não podem sentir por ti. É importante que indiques ao médico se sentires algum tipo de desconforto para evitar lesões.
Porque é preferível fazer uma aspiração a vácuo a uma curetagem?
Segundo o Reproductive Health Supplies Coalition, estudos mostram que a aspiração elétrica e manual intrauterina possuem a mesma eficácia e que a taxa de sucesso deste método é de aproximadamente 99%, quando comparado com a curetagem. Segundo a mesma publicação, 98% dos casos ocorrem sem quaisquer complicações, uma taxa superior à da curetagem uterina, cujos riscos de perda excessiva de sangue, infeção pélvica e outros tipos de complicações são mais altos.
Aspiração a Vácuo | Curetagem | |
Eficácia no esvaziamento | Altamente eficaz | Altamente eficaz |
Complicações | Menores taxas | Maiores taxas |
Dilatação cervical | Ocasionalmente | Frequentemente |
Controlo da dor | Menor | Maior |
Uso instalações | Sala procedimentos | Centro cirúrgico |
Permanência hospitalar | Menor | Pernoite |
Kulier, 2001; Castleman et al., 2002 in: Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente[8]
Outra das vantagens da aspiração a vácuo diz respeito à permanência da paciente no hospital. Segundo Manjula et al., 2016 num estudo comparativo randomizado, mulheres que realizaram uma aspiração a vácuo ficaram menos tempo no hospital do que as pacientes que foram submetidas a uma curetagem. Os autores desta publicação afirmam que a aspiração a vácuo “é melhor que a curetagem”.
De realçar que grande parte dos autores afirma uma posição em que existe uma notória preferência pelo método manual da aspiração devido aos baixos custos que este acarreta, o seu fácil transporte e a baixa percentagem de riscos já demonstrada.
Documentos para download:
Referências:
[1] Holanda AA, Freire HP, Santos D, Barbosa MF, Barreto FB, Felinto AS, Araújo IS. Tratamento do abortamento do primeiro trimestre da gestação: curetagem versus aspiração manual a vácuo. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. vol.25 no.4 Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032003000400008
[2] Manual vacuum aspiration – Caucus on new and underused reproductive health technologies product brief, 2012. Disponível em: https://path.azureedge.net/media/documents/RHSC_mva_br.pdf
[3] Manjula A, Sujatha B. Compare the manual vacuum aspiration with electrical vacuum aspiration in 1st trimester MTP. IAIM, 2016; 3(12): 41-47. Disponível em: http://iaimjournal.com/wp-content/uploads/2016/12/iaim_2016_0312_06.pdf
[4] e 6 Edelman A. Manual Vacuum Aspiration (MVA) for Uterine Aspiration, 2018. Disponível em: https://fiapac.org/media/docs/20180914-Edelman-IPASMVA.pdf
[7] Steps for Performing Manual Vacuum Aspiration (MVA) Using the Ipas MVA Plus® and Ipas EasyGrip® Cannulae. Ipas, 2014. Disponível em: https://depts.washington.edu/obgyn/images/stories/other_images/TEAMM_photos/Steps_for_Performing_MVA_Using_the_Ipas_MVA_Plus_and_Ipas_EasyGrip_Cannulae.pdf
Cómo efectuar la evacuación endouterina con el aspirador Ipas AMEU Plus y las cánulas Ipas EasyGrip®: folleto instructivo. Ipas, 2016. Disponível em: https://www.medica-tec.com/arg/files/Instructivo%20Tecnica%20AMEU.pdf
AMEU (aspiración por vacío manual, aspiración manual endouterina). Hesperian Health Guides, 2016. Disponível em: http://hesperian.org/wp-content/uploads/pdf/es_midw_2013/es_midw_2013_23.pdf
[8] Método de aspiração manual intrauterina – AMIU: quando e como fazer. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29835/2/M%C3%89TODO%20DE%20ASPIRA%C3%87%C3%83O%20MANUAL%20INTRAUTERINA%20-%20AMIU_QUANDO%20E%20COMO%20FAZER.pdf
Deixe um comentário ou faça sua pergunta
Quer participar da discussão?Seu e-mail não será publicado.