Entramos agora numa variante do tema que não diz apenas respeito à mulher. Uma vida sexual saudável exige a satisfação de ambas as partes e um aborto é um evento sério cuja interferência na intimidade não deixa de ser uma das preocupações dos casais. Assim sendo, é normal que surja a dúvida relativamente a este assunto mesmo antes da realização do aborto.
Ninguém pode decifrar ao certo o que irá acontecer na vida sexual de um casal após um aborto. Grande parte dos sentimentos poderão estar relacionados com vivências e fragilidades já existentes antes do aborto,
Fisicamente, já aqui aconselhamos a esperar alguns dias até voltar à atividade sexual devido ao risco de infeção e até de poder voltar a engravidar. Devido ao sangramento que se faz sentir, é perfeitamente compreensível que você não se sinta confortável para voltar a ter sexo. Se o seu parceiro quiser voltar a ter intimidade, mas você não, então o melhor será que ambos tenham uma conversa, afinal, este é um ato que tem de ser mutuamente consentido
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Emocionalmente existirá um espetro de sensações que ninguém consegue prever. Porém, embora a decisão seja única e exclusivamente do direito da mulher, é de esperar que os sentimentos do parceiro acabem por ter impacto no processo da deliberação. Desta forma, se a gestante permitir que a decisão final seja tomada pelo parceiro ou ser obrigada a fazer algo que não quer, existirá uma maior probabilidade de vir a atravessar momentos mais difíceis no futuro[1].
Segundo Ring-Cassidy et al., 2002 refere que entre 40% e 50% dos casais acabam a sua relação depois de um aborto. Isto pode acontecer devido a vários fatores que podem derivar da experiência de aborto na vida da mulher ou das ações e comportamentos do parceiro. Estes podem levar a uma quebra na intimidade e fracasso da relação se a mulher. É essencial que o casal mostre apoio mútuo aquando da existência de um aborto, dado que ajuda a ultrapassar o processo.
The feelings of abandonment lead to emotional disengagement which in turn manifests itself as female sexual dysfunction[2].
Ring-Cassidy et al., 2003
Poderá também existir uma maior preocupação relativamente ao facto de voltar a ocorrer uma gravidez não planeada que se manifesta num maior afastamento do parceiro, mas que acaba por ser temporário. Isto poderá ter a ver com o facto da necessidade de repensar na decisão que a mulher teve de tomar e os fatores que a levou a esse desfecho.
Nestes casos é recomendado o uso de um método contraceptivo após o aborto para que ambos elementos do casal se sintam mais confortáveis com o regresso à atividade sexual.
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Engravidar após o aborto
O contrário também se pode verificar. É possível que você se sinta mais livre e descansada depois do aborto, isto porque já não tem essa preocupação nos seus pensamentos; você ente que tomou a decisão certa e que o mais correto é continuar com a sua vida normalmente. Para que esta sensação perdure, é essencial que a mulher tenha controlo no que toca ao planejamento de uma gravidez, e, para que isso aconteça, é necessário que tenha acesso a métodos contraceptivos que lhe proporcionem uma maior segurança.
O melhor conselho que podemos lhe dar é que aceite os seus sentimentos e que seja honesta com o seu parceiro. É essencial que nenhum dos dois force momentos de intimidade se uma das partes não o deseja. Se você precisa de apoio e compreensão, então converse com o seu parceiro e diga o que sente para que ele também saiba aquilo que você está passando.
Se você não perdeu a sua libido e quer voltar a ter uma vida sexual saudável e feliz, então não há nada que possa lhe prender. Apenas realçamos que a necessidade de esperar uns dias, tal como já afirmamos no início deste tópico.
Documentos para download:
Abortion and Interpersonal Relationships
Healthy coping after an abortion
Referências:
[1] Healthy coping after an abortion. Abortion Conversation Project. Disponível em: http://static1.squarespace.com/static/554d6ae9e4b063a0302afbb6/t/5574df33e4b0af307614159d/1433722675443/Healthy_Coping_Abortion.pdf
[2] Ring-Cassidy E, Gentles I. Abortion and Interpersonal Relationships. In Women’s Health After Abortion: The Medical and Psychological Evidence. He deVeber for Bioethics and Social Research, 2nd ed Chap 15, 2003. https://www.deveber.org/wp-content/uploads/2017/09/Chap15.pdf
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