Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (Abreu et al. 2018[1]), 38.3% das pessoas com 15 anos ou mais consomem bebidas alcoólicas no mundo numa “quantidade média de 17,2 litros de álcool puro por pessoa por ano”.
De acordo com o mesmo autor, o consumo de álcool é um comportamento “bastante tolerado na sociedade e está presente em diversas manifestações culturais”. Esta realidade se verifica nomeadamente em situações em que se quer mudar o estado de espírito, para descontrair depois de um dia estressante, para relaxar, celebrar ou até mesmo para “afogar as mágoas”. O álcool é capaz de camuflar problemas relacionados com ansiedade e depressão graças ao seu impacto positivo de cariz temporário[2].
Bebo para relaxar. É possível fazê-lo nesta fase?
O consumo de bebidas alcoólicas constitui um risco para quem tem de tomar decisões importantes. O nosso cérebro depende de um equilíbrio químico que ocorre de forma delicada. O álcool tem a capacidade de prejudicar esse mesmo equilíbrio, afetando os pensamentos, sentimentos e ações. Estudos mostram que as mulheres são mais sensíveis ao consumo e aos efeitos a longo prazo e, por conseguinte, têm mais dificuldade em lidar psicologicamente com as consequências do seu uso[3].
Assim como referido anteriormente, estas substâncias são usadas principalmente para relaxar e, sendo que o aborto é um processo que pode vir a provocar algum estresse na mulher, é possível que esta queira usar bebida alcoólica para se sentir mais relaxada. É o nosso dever informar que o consumo de álcool é completamente proibido durante todo o procedimento do aborto devido à grande influência que tais substâncias têm nas decisões e no discernimento de quem as consome.
Em primeiro lugar, não beber antes do procedimento poderá também ser uma mais-valia: para que você possa tomar uma decisão consciente no que diz respeito à sua gravidez, irá precisar de pensar com clareza e não num estado que foi alterado quimicamente. Se o aborto é realmente algo que você quer fazer, então a decisão final tem de ser tomada com base numa atitude inalterada e ponderada. É o nosso conselho para que você possa seguir o melhor caminho seguindo as suas prioridades.
Na fase do aborto propriamente dito você também não deverá tocar em álcool. À medida que os níveis da substância aumentam, o sistema motor e os sentidos vão ficando cada vez mais afetados e, desta forma, a pessoa começa a ter dificuldades de coordenação e o seu tempo de reação começa a diminuir. Lembramos que, embora não seja um procedimento complicado, o aborto é um processo delicado e você precisa de estar atenta àquilo que vai ocorrendo no seu corpo.
Outros dos efeitos do álcool são[4]:
- Vômito – a parte do cérebro que controla o vômito é afetada com a presença de bebidas alcoólicas. Dependendo da quantidade, se você tiver bebido no processo da ingestão dos medicamentos, existe a possibilidade de você sentir náuseas e chegar efetivamente a vomitar. Não se esqueça que vomitar é algo que pode afetar negativamente o seu aborto porque acaba reduzindo a eficácia do Misoprostol (Cytotec – 200mcg).
- Desidratação – o álcool prejudica a capacidade de filtragem dos rins, que acabam por eliminar mais água que o normal. Neste caso, o corpo entra num estado de desidratação. Ora, um dos efeitos secundários do Cytotec é diarreia, que já de por si é favorável ao desenvolvimento de um quadro de desidratação. O consumo de substâncias alcoólicas apenas irá agravar o seu impacto no corpo.
Mesmo após você ter ingerido os comprimidos, fase em que poderão ainda ocorrer sangramentos, o consumo de tais bebidas é proibido pelo menos durante uma semana. Depois deste período, você poderá voltar a consumir bebidas alcoólicas, tendo sempre em mente que a sua saúde está em primeiro lugar e por isso a moderação é essencial. Beber em excesso é prejudicial, e por essa razão aconselhamos que seja responsável no que toca ao uso de substâncias alcoólicas.
Documentos para download:
Substance Abuse Treatment: Addressing the Specific Needs of Women
ALCOHOL AND HEALTH ALCOHOL AND THE HUMAN BODY
Referências:
[1] Abreu TT, Maurílio AO, Liguori CC, Tavares DVP, Terceiro DMG, Cunha LGM, Belo, Silva AE. O consumo de bebida alcoólica e o binge drink entre os graduandos de Medicina de uma Universidade de Minas Gerais. J Bras Psiquiatr. 2018;67(2):87-93. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v67n2/0047-2085-jbpsiq-67-2-0087.pdf
[2] Alcohol and mental health. Drinkaware, 2013. Disponível em: https://www.mentalhealth.org.nz/assets/A-Z/Downloads/The-facts-about-Alcohol-and-mental-health-Drink-Aware-UK-2013.pdf
[3] Substance Abuse Treatment: Addressing the Specific Needs of Women. U.S. Department of Health And Human Services, 2009. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK83252/pdf/Bookshelf_NBK83252.pdf
[4] Alcohol and the human body. Educalcool, 2016. Disponível em: http://educalcool.qc.ca/wp-content/uploads/2016/11/Alcohol-and-human-body.pdf
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