O aborto
Oaborto é uma interrupção da gravidez. Ele pode acontecer através da remoção ou da expulsão do embrião ou feto do útero. Um aborto pode ocorrer espontaneamente (chamado de aborto espontâneo) ou pode ser induzido. O aborto induzido é um dos procedimentos mais seguros na medicina quando é feito de forma correta e segura.
O aborto induzido é um dos procedimentos mais seguros da Medicina quando é feito de forma correta e segura.
No entanto, os abortos inseguros resultam em aproximadamente 70 000 mortes maternas e mais de cinco milhões de internamentos por ano, em todo o mundo. Estima-se que todos os anos são realizados mais de 44 milhões de abortos no mundo, sendo que pouco mais da metade foi realizado de forma correta e segura.
A incidência do aborto tem vindo a estabilizar-se nos últimos anos depois de décadas em declínio motivado pelo acesso aos métodos contracetivos, à educação e ao planeamento familiar.
O aborto induzido possui uma longa história e tem sido realizado através de diversos métodos que geralmente arriscam a vida da gestante.
A legalidade, a aceitação cultural e status religioso do aborto variam muito em todo o mundo. A sua legalidade pode depender de condições específicas, como nos casos de incesto, violação, defeitos fetais, elevado risco de deficiência, fatores socioeconómicos ou a possibilidade da saúde da mãe estar em risco.
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O aborto é a interrupção de uma gravidez. Designa-se de aborto espontâneo quando acontece de forma natural e sem ter sido provocado. A maior parte acontece no início da gravidez (antes das 12 semanas) e calcula-se que metade do número total de gravidezes acabe em aborto espontâneo. [1]
O mesmo pode ser levado a cabo de forma voluntária. Este dá-se através do uso de métodos cirúrgicos (como a curetagem e a aspiração a vácuo) ou químicos (com medicamentos).
Seja qual for o tipo de aborto, este acontece através da remoção ou da expulsão do embrião ou feto do útero.
O aborto induzido
O aborto induzido é um dos procedimentos mais seguros na medicina quando é feito de forma correta e segura (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2015)[2]. Todavia, em muitos países o aborto ainda é altamente restringido e até punível por lei. Por esta razão e também por questões relacionadas com os elevados custos financeiros associados a um aborto, a prática continua a ser levada a cabo de forma clandestina e com condições que não proporcionam qualquer tipo de segurança à mulher, colocando a sua vida em risco.
O que leva uma mulher a realizar um aborto?
Esta é uma questão relevante. Perceber as razões que motivam uma mulher a tomar uma decisão tão importante será talvez o melhor caminho para que exista uma maior compreensão em relação a este tema e talvez fazer com que existam menos objeções à pratica do aborto.
- Em primeiro lugar, os defensores da despenalização do aborto apontam para a realização de um aborto devido a problemas de saúde física ou psíquica da gestante, malformação do feto ou para interromper a gravidez resultante de uma violação. Nestes casos, a lei de grande parte dos países contempla a IVG.
- Para além das causas relacionadas com a saúde, existem outros motivos de caráter pessoal que pesam na decisão de uma mulher. Para Gabriel, 2002 apud Santos, 2004[3], os abortos devem-se a:
– Falta de recursos para ter um filho ou até medo de perder o emprego;
– Falta de um compromisso e a subsequente rejeição da ideia de vir a ser mãe solteira;
– Consciência da falta de maturidade para educar uma criança e os sacrifícios que tem de fazer, tal como deixar os estudos;
– A vergonha de assumir a sexualidade. A mulher não quer que ninguém saiba que tem relações sexuais;
– A falha de métodos contracetivos.
Estes são apenas alguns dos motivos, no entanto, podemos também referir que existem alguns outros que se prendem com o sentido de realização pessoal e com a liberdade da mulher, quer quando dá prioridade ao seu trabalho/carreira, quer quando sente que deveria aproveitar a vida com atividades de lazer e viagens e tem a noção de que será mais complicado com um filho. Outras mulheres até poderão desejar ser mães, mas acreditam que essa não seja a melhor altura.
Para alguns, principalmente para grupos defensores da criminalização do aborto, estas são questões que mostram egoísmo por parte da mulher. Nós defendemos que cada motivo é único e pessoal e não deve ser julgado por ninguém. Defendemos que a mulher deve usufruir do direito à sua liberdade e de tomar as decisões que dizem respeito ao seu corpo.
Se quiseres aprofundar mais este assunto, aconselhamos-te a dar uma vista de olhos a esta secção: Razões para fazer um aborto.
Em certos países a legislação poderá ser favorável ao aborto, mas nos países com restrições (em maior ou menor escala) à prática, a mulher que deseje ir em frente com o aborto poderá ter como única opção as técnicas clandestinas que colocam a sua saúde e a sua vida em risco.
Estatísticas:
- Mundialmente ocorreram, entre 2010 e 2014, 25 milhões de abortos inseguros por ano.
- A maior parte dos abortos inseguros aconteceram em países da África, Ásia e América Latina.
- 31% dos abortos foram considerados “menos seguros” (isto é, foram feitos por um profissional qualificado, mas com métodos menos adequados ou são abortos feitos com comprimidos, mas com aconselhamento de pessoas sem qualquer tipo de conhecimentos e/ou formação).
- 14% dos abortos foram considerados como sendo “os menos seguros” (praticados por pessoas sem conhecimentos/formação e com recurso a métodos que não proporcionam nenhum tipo de segurança).
- Nos países onde o aborto é completamente restringido ou apenas permitido para preservar a saúde ou a vida da mãe, 1 em cada 4 abortos foram seguros. Já em países onde o aborto não é punível, cerca de 9 em cada 10 abortos foi feito com segurança.
- Na América Latina, apenas 1 em cada 4 abortos foram seguros, embora a maior parte fosse considerada como sendo “menos seguro”.
Fonte: OMS, 2017[4]
Contexto histórico
Dentro do contexto etimológico, a palavra aborto vem do latim aboriri (separar do lugar adequado) que deu origem à palavra ab-ortus, que diz respeito à privação do nascimento. Ab: privação, ortus: nascimento.[5]
O aborto já acontecia em civilizações bastante antigas. As primeiras referências ao aborto remontam aos anos 2737-2696 a.C., na China com o Imperador Chen Nong e encontra-se mencionado no Papiro de Ebers (Egito Antigo 1500 a.C.)[6].
Existem provas que sugerem que as gravidezes eram terminadas com recurso a ervas abortivas, através de instrumentos afiados ou através de golpes e gestos violentos que tinham como objetivo a morte do feto.
O aborto sempre foi uma conduta bastante utilizada pelas mulheres, que, devido aos mais diversos motivos, não desejavam gerar um feto. Desde a Grécia, o aborto era usual e não se restringia, como hoje, a nenhuma classe específica, afinal, a preocupação de não levar uma gestação a termo existe em qualquer classe social. Somente o tratamento concedido às mulheres é que é diferenciado em uma classe social mais elevada em relação a outra mais baixa.
Balbinot, 2003
Hipócrates, no seu juramento declarava-se contra o aborto afirmando que nunca daria a nenhuma mulher alguma substância abortiva. No entanto, e simultaneamente, este mesmo juramento contém uma série de práticas descritivas do aborto.[7]
Já Aristóteles aconselhava a prática do aborto desde que o feto não tivesse adquirido alma. Aristóteles defendia a interrupção da gravidez como método populacional, isto é, para manter o equilíbrio entre a população e os meios de subsistência. Por sua vez, Platão defendia que o aborto deveria ser permitido às mulheres grávidas com mais de 40 anos, pois entendia que uma idade avançada poderia pôr em risco a vida da gestante.[8]
Segundo Balbinot, 2003, A Igreja Católica nem sempre foi contra o aborto (…). Embora existisse uma condenação moral, se o feto ainda não tivesse alma (quarenta dias para os meninos e oitenta dias para as meninas – Piazzeta, 2001 apud Balbinot, 2013), então não podia ser condenado.[9]
Em 1869 o Papa Pío IX, na Bula Apostolicae Sedis, determinou que os embriões possuem alma desde o momento da fecundação.[10] A partir do momento em que as ideias da Igreja Católica começaram a ser difundidas, a questão do aborto passou a ser discutida. Atualmente a Igreja Católica opõe-se a qualquer tipo de aborto.
Já para as correntes da cultura Islâmica, o aborto é permitido em casos onde a vida da mulher está em risco. Dependendo dos fiéis, poderá ser aceitável, ou não, a prática do mesmo noutras circunstâncias. A maior parte das correntes islâmicas considera que o aborto deve ser permitido apenas em casos de violação e de riscos à saúde da gestante. Os muçulmanos acreditam que a alma entra no feto 120 dias após a fecundação e que por esta razão, este é o limite máximo para realizar a interrupção da gravidez.[11] A prática é, no entanto, restrita em áreas de alta fé islâmica, como a do Médio Oriente e Norte da África.
Na Europa e na América do Norte as técnicas começaram a evoluir a partir do século XVII; todavia, o conservadorismo de grande parte dos médicos relativamente a assuntos sexuais impediu uma maior expansão das técnicas para um aborto seguro.
Nos EUA, o aborto era mais perigoso do que o parto até aproximadamente o ano 1930, quando começaram a haver melhorias progressivas nos procedimentos relativos aos partos e que tornaram o aborto seguro.
A União Soviética (1919), Islândia (1935) e a Suécia (1938) foram dos primeiros países a legalizar certas ou todas as formas de aborto. Em 1935, na Alemanha Nazi, foi aprovada uma lei que permitia o aborto para aqueles que fossem considerados “hereditariamente doentes”, ao mesmo tempo que as mulheres alemãs consideradas valiosas foram especificamente proibidas de fazer abortos.
A partir da segunda metade do século XX, o aborto foi legalizado na grande maioria dos países.
Documentos para download:
Referências:
[1] Miscarriage Women’s Health. University College Hospital NHS Foundation Trust. 2009. Disponível em: https://www.uclh.nhs.uk/PandV/PIL/Patient%20information%20leaflets/Miscarriage.pdf
[2] Frequently Asked Questions – Special Procedures. American College of Obstetricians and Gynecologists, 2015. Disponível em: https://www.acog.org/-/media/For-Patients/faq043.pdf
[3] Seabra Santos AF. A despenalização do aborto, 2009. Universidade de Coimbra – Faculdade de Economia. Disponível em: http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2003002.pdf
[4] Worldwide, an estimated 25 million unsafe abortions occur each year. World Health Organization, 2017. Disponível em: http://www.who.int/news-room/detail/28-09-2017-worldwide-an-estimated-25-million-unsafe-abortions-occur-each-year
[5] Direito, religião, direito à vida e aborto. CEDIS Working Papers. Direito, Estado e Religião, ISSN 2184-0768 | Nº 5 | julho de 2015. Disponível em: http://cedis.fd.unl.pt/wp-content/uploads/2017/10/CEDIS-working-paper_DER_Direito-Religi%C3%A3o-Direito-%C3%A0-vida-e-aborto.pdf
[6] Dominguez Enríquez B, Bermúdez Sanchez R, Puentes Rizo EM, Jiménez Chacón MC. Comportamiento del aborto inducido en la adolescencia. Revista Cubana de Obstetricia y Ginecología. 2010; 36(2)145-159. Disponível em: http://scielo.sld.cu/pdf/gin/v36n2/gin13210.pdf
[7] Sales Sousa TG. Aborto voluntário: visão ético, jurídico e religioso, 2002. Disponível em: http://leg.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/eventos/evento2002/GT.5/GT5_3_2002.pdf
[8] Santana Falcão JH, Aborto – Histórico e Modalidades. E-GOV, 2007. Disponível em: http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/13371-13372-1-PB.pdf
[9] Balbinot R. O aborto: perspectivas e abordagens diferenciadas. Revista Seqüência, n.º 46, p. 93-119, 2003. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15293/13896
[10] Dunstan GR. The moral status of the human embryo: a tradition recalled. Journal of medical ethics, 1984, 1, 38-44. Disponível em: https://jme.bmj.com/content/medethics/10/1/38.full.pdf
[11] Necco E. Argumentos de Bioética en el Islam: aborto, planificación familiar e inseminación artificial. Colección Cuadernos de Almenara 14, CantArabia Ediciones, Madrid, 2010. ISBN 978- 84-86514-70-9. Disponível em: http://scielo.isciii.es/pdf/bioetica/n25/biblioteca.pdf
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