Corro risco de vida?

A nível mundial, são muitos os debates em torno do tema do aborto. Se por lado existem os grupos que apoiam a legalização do aborto, noutro encontramos os grupos que se opõem a este mesmo procedimento.

Uma das formas da luta contra o aborto se manifesta através da tentativa de imposição de ideologias morais e/o religiosas que se encontram, muitas vezes, disfarçadas de argumentos jurídicos e sob a alçada do movimento pro-life (que significa pró-vida= contra o aborto), afirmado que o aborto é o equivalente ao assassinato.

O objetivo destas ideologias é o de persuadir a mulher a ponderar manter uma gravidez indesejada. Assim sendo, quando este tipo de sistema ideológico prevalece num país, verifica-se a existência de restrições e proibições relativamente ao aborto que, para além de travar a liberdade sexual da mulher, irá empurrá-la para o caminho da clandestinidade.

Sociedades fortemente marcadas por uma tradição católica são conformadas por um imaginário social em que a maternidade não se coloca como uma escolha, mas como uma obrigação que se impõe duplamente, como uma realização e como uma “punição” para as mulheres, que, caso tenham relações sexuais fora do escopo do casamento, devem arcar sozinhas com o ônus dessa escolha.

Rosendo et al., 2015[1]

Clínicas ilegais, “profissionais” desqualificados, métodos duvidosos, medicamentos falsificados e até a autoindução do aborto com supostos chás abortivos, lesões auto infligidas e/ou introdução de objetos pela vagina. São estas as únicas alternativas que grande parte das mulheres tem vido, e que muito provavelmente continuará a encontrar; tudo graças à falta de informação e conhecimentos na matéria, nomeadamente no que toca ao universo feminino economicamente mais carenciado e residente em países mais pobres (com maior destaque na América Latina e África[2]).

Estimativas mundiais da Organização Mundial de Saúde em 1995 afirmam que ocorreram cerca de 26 milhões de abortos legais e 20 milhões de abortos ilegais todos os anos. Este mesmo documento da OMS mencionam um estudo onde 69% das mulheres entrevistadas afirmaram ter conhecido uma ou mais mulheres que morreram como consequência de um aborto ilegal e inseguro.

Abortion-related mortality often happens after a clandestine or illegal procedure, and powerful disincentives discourage reporting.

OMS, 2006

Morbidade materna:

Segundo este mesmo documento da OMS, embora ambos sejam determinados pelos mesmos fatores de risco, a morbidade – mais do que a morte – é o resultado mais comum após um aborto inseguro. As complicações relacionadas com a morbidade materna incluem hemorragia, sepse, peritonite e feridas no colo do útero, vagina e órgãos internos. Desde o início da década de 90 que as taxas de morbidade têm vindo a diminuir, como resposta à realização de abortos mais seguros. A redução do número de complicações poderá dever-se, em parte, ao aumento do uso do Misoprostol (que substitui outros métodos inseguros e mais invasivos)

High proportions of women (20–50%) who have unsafe abortions are hospitalised for complications.

Liskin, 1980 apud OMS, 2006

Portanto, e respondendo à sua pergunta: o Misoprostol não coloca sua vida em risco. O que pode ser perigoso para você, ou até para a sua saúde no futuro, é a realização de abortos inseguros em lugares duvidosos e com recurso a técnicas extremas.

Para que um aborto ocorra dentro da normalidade e com resultados eficazes, você precisa de cumprir as instruções de uso indicados no nosso sítio web. Elas podem ser encontradas aqui: Instruções de uso

E mais importante ainda, não adquira produtos cuja origem é desconhecida. Ao fazê-lo, você corre o risco de ser vítima de burlas podendo mesmo chegar a colocar sua vida em risco, pois é impossível saber a verdadeira composição química desses comprimidos.

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Documentos para download:

DIREITO À VIDA E À PERSONALIDADE DO FETO, ABORTO E RELIGIÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO: MULHERES ENTRE A VIDA E A MORTE

Aborto e estigma: uma análise da produção científica sobre a temática

Unsafe abortion: the preventable pandemic

The biomedicalisation of illegal abortion: the double life of misoprostol in Brazil

Itinerários e métodos do aborto ilegal em cinco capitais brasileiras

Referências:

[1] Rosendo D, Gonçalves T. Direito à vida e à personalidade do feto, aborto e religião no contexto brasileiro: mulheres entre a vida e a morte. ethic@ – Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.2, p.300 – 319, 2015. Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/direito_a_vida_e_a_personalidade_do_feto_aborto_e_religiao_no_contexto_brasileiro_mulheres_entre_a_vida_e_a_morte.pdf

[2] Grimes D, Benson J, Singh S, Romero M, Ganatra B, Okonofua F, Shah I. Unsafe abortion: the preventable pandemic. Organização Mundial de Saúde, 2006. Disponível em:  https://www.who.int/reproductivehealth/publications/general/lancet_4.pdf