Aborto medicinal é perigoso?

O Misoprostol é um fármaco importante na área de obstetrícia e ginecologia devido à sua ação indutora de contrações uterinas e também como recurso para preparação cervical antes do parto. As suas principais vantagens são o preço acessível, a sua ampla disponibilidade, a sua estabilidade à temperatura ambiente e pelos poucos efeitos secundários que possui[1].

[…] misoprostol has been administered for induction of first and second trimester abortion, for induction of labor in the third trimester, and to control postpartum hemorrhage. None of these uses has been approved by the Food and Drug Administration. Nevertheless, misoprostol is widely used in the United States and throughout the world. Advantages are cited as reduced rate of cesareans, shorter time from induction to birth and, particularly in developing countries, lower cost, oral, vaginal or rectal administration, and stability without refrigeration.

Moore, 2002[2]

É comum que, em países onde o aborto é legal, a combinação Mifepristone + Misoprostol seja o método escolhido para realizar o aborto medicinal, porém o regime de Misoprostol isolado tem o potencial de expandir o acesso ao aborto seguro em países pobres e/ou com acesso restringido ou até proibido.

The misoprostol-only regimen is an important alternative for women who do not have access to other medication or aspiration abortion methods

Ibis Reproductive Health, 2005[3]

Devido a mifepristone ser registrada como uma droga abortiva, o comércio e o uso não são permitidos em muitos países com leis restritivas em relação ao aborto. Em contrapartida, o misoprostol é um medicamento anti-úlcera, e é registrado com muitos nomes comerciais no mundo todo. Pesquisas apontam que o misoprostol sozinho possui entre 75 e 85 porcento de chances de sucesso na indução do aborto no primeiro trimestre quando tem seu uso recomendado.

International Women’s Health Coalition, 2016[4]

Segundo o Ibis Reproductive Health, a maior parte das mulheres que se encontra na fase inicial da sua gravidez é elegível para a realização de um aborto com o regime de Misoprostol isolado. Para que a mulher possa realizar um aborto medicinal, ela tem de cumprir alguns requisitos que garantam sua segurança:

• Ter 12 semanas de gestação ou menos;
• Ausência de contraindicações;
• Ter noção que, embora possa não acontecer, se a gestante ficar com algum resto de gravidez que acabe por se revelar prejudicial à sua saúde, o melhor será realizar uma aspiração a vácuo (método que mais aconselhamos. Se este não estiver disponível, então terá de ser realizada uma curetagem).

Tópicos relacionados:

Aspiração a vácuo

Curetagem após o aborto

As contraindicações do Misoprostol incluem:

• Existência de uma gravidez ectópica;
• Alergia ao Misoprostol;
• Presença de um dispositivo intrauterino (DIU).

Para que você saiba mais sobre o tema das contraindicações, entre no seguinte link: O que é uma contraindicação?

Segundo o Guttmacher Institute[5], o desenvolvimento e a implementação de normas e orientações clínicas tem vindo a facilitar a disponibilização de um aborto seguro. Segundo a mesma fonte, num contexto mais restritivo, os abortos clandestinos agora são mais seguros porque o número de procedimentos que acontecem de forma invasiva e perigosa tem vindo a diminuir principalmente graças ao uso do Misoprostol isolado, medicamento que, como já foi referido, encontra-se mais amplamente disponível do que a combinação Mifepristone + Misoprostol.

Neste sentido, e nos países onde o aborto é restringido, é essencial dar a conhecer a informação adequada sobre o uso seguro de Misoprostol para fazer com que o aborto clandestino se torne seguro. Desta forma, irão criar-se as condições necessárias para fomentar a saúde da mulher, diminuindo o risco de mortes e aliviando o fardo financeiro em torno da prestação de cuidados pós-aborto, custos que têm de ser suportados pelo sistema de saúde de cada país e que seriam pesados na economia dos países mais pobres.

Por outro lado, já nos países onde o aborto é legal, é importante dar a conhecer à mulher as opções seguras que tem à sua disposição, ou seja, o aborto medicinal e o cirúrgico, e, por conseguinte, assegurar à mulher a oportunidade de poder optar entre ambos métodos.

O aborto com Misoprostol (Cytotec – 200mcg) não é perigoso. Da mesma forma, interromper uma gravidez com Misoprostol (Cytotec – 200mcg) não afeta a sua capacidade reprodutiva a longo prazo. Não aumenta o risco de câncer da mama e não põe em risco a sua saúde[6]. Porém, você deverá ter sempre em conta a obrigatoriedade de seguir as instruções que se encontram indicadas aqui no website Instruções de uso do Cytotec. É preciso ter consciência que, tal como acontece com qualquer outro medicamento, existem alguns riscos associados ao uso de Misoprostol, no entanto, o aborto medicinal é muito mais seguro do que levar a cabo um aborto através de métodos duvidosos e em lugares sem condições.

No clinically significant adverse hematological, endocrine, biochemical, immunological, respiratory, ophtalamic, platelet or cardiovascular effects have been found with misoprostol. Diarrhea is the major adverse reaction that has been reported consistently with misoprostol, but it is usually mild and self-limiting. Nausea and vomiting may also occur and will resolve in 2 to 6 hours.

Tang et al., 2007

Documentos para download:

Sufi Desrini. The benefit and risk of misoprostol use: in

Misoprostol—Is More Research Needed?
Mary Lou Moore, PhD, RNC, LCCE, FACCE, FAAN

Misoprostol: Pharmacokinetic profiles, effects on the uterus and side-effects

Referências:

[1] Tang OS, Gemzell-Danielsson K, Ho PC. Misoprostol: Pharmacokinetic profiles, effects on the uterus and side-effects.  International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2007, 99, S160-167. Disponível em: https://www.k4health.org/sites/default/files/Tang%20et%20al.%20%20Misoprostol%20Pharmacokinetic%20profiles%2C%20effects%20on%20the%20uterus%20and%20side-effects.pdf

[2] Moore ML. Misoprostol – Is More Research Needed? The Journal of Perinatal Education Vol. 11, No. 3, 2002. Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1595114/

[3] Medication Abortion. A guide for health professionals. Ibis Reproductive Health, 2005. Disponível em: https://www.ibisreproductivehealth.org/sites/default/files/files/publications/Med_ab_A_guide_for_health_professionals_English.pdf

[4] Aborto com auto-administração de misoprostol: um guia para as mulheres. International Women’s Health Coalition. Gynuity Health Projects. Disponível em: https://iwhc.org/wp-content/uploads/2010/10/Miso_fact_sheet_PORT-2016.pdf

[5] Singh S, Remez L, Sedgh G, Kwok L, Onda T. Abortion Worldwide 2017: Uneven Progress and Unequal Access. Guttmacher Institute, 2019. Disponível em: https://www.guttmacher.org/report/abortion-worldwide-2017

[6] How safe is the abortion pill? Planned Parenthood. Disponível em: https://www.plannedparenthood.org/learn/abortion/the-abortion-pill/how-safe-is-the-abortion-pill