Posicionamento sobre o vírus ZIKA e sua correlação com o aborto
Publicado em 03/02/2016
Assunto(s): Institucional
Região: Brasil
Aborto na Nuvem é um projeto em fase de soft-startup. Estamos continuamente coletando dados, analisando, aprimorando e expandido os diferentes sistemas atualmente no site. Nossa premissa de base é tratar o aborto como um procedimento natural, clínico e de cunho privado (cabendo a quem o realiza expor ou não as suas motivações).
Temos assim lugar para a devida discussão esclarecida, aperfeiçoamento, investigação científica e regulação técnica sobre a ação de aborto, deixando de lado os mitos, lendas e a política sobre o tema.
Com base nos recentes eventos internacionais sobre o vírus ZIKA:
- Você percebe um aumento de abortos com pílulas pedidos no Brasil, após o número crescente de infecções por vírus Zika? (Do you notice an increase of abortions pills requests from Brazil after the increasing numbers of Zika virus infections? – Asked by the press)
Quanto ao ZIKA e a sua contínua expansão no Brasil e na América Latina, não percebemos uma correlação entre o vírus e o aumento na procura por serviços ou informações.
Ponderações
1 – Apesar da “lógica” levar a correlação entre o medo de ter um feto com má formação e o desejo de abortar, os reais motivadores que levam a opção pelo aborto pesam significativamente mais na tomada da decisão. Tais motivadores primordiais são: momento inadequado e limitações financeiras.
2 – O aborto ainda é um procedimento discutido em âmbito elitista em boa parte da América Latina (não pelo fator custos), mas sim por uma “hipocrisia social”. Essa hipocrisia leva as camadas sociais mais desfavorecidas a se “espelharem” em um comportamento que seria tido como “o correto” e supostamente adotado pelas camadas mais elevadas (o marketing de produtos há décadas usa esse fenômeno). Como resultado, veremos o aborto sendo “melhor” aceito, ironicamente, pelas camadas sociais que menos dificuldade ou necessidade teriam em recorrer ao mesmo.
3 – Recebemos hoje um público diário acima de 10 mil pessoas, sendo 80% desse publico formado por mulheres. No período de 01/12/2015 a 01/02/2016 tivemos apenas 05 casos registrados sobre o ZIKA.
4 – Definimos como registro a manifestação escrita (fórum, e-mail, chat, sistema) do evento. Neste caso, da palavra “Zica” ou “Zika”.
5 – Dos 05 casos registrados temos:
13 de dez 08:59 – “Porém minha esposa pegou zica e não queremos prosseguir esta gravidez…”
22 de dez 09:32 – “Minha esposa tem uma mestruação muito irregular e teve zica virus com essa agonia que esta acontecendo…”
15 de jan 18:28 – “minha ex mulher engravidou de um cara e o mesmo não quer a criança e na primeira semana da gravides ela teve essa zica que tem um grande risco de trazer problemas para o bebe…”
Os outros dois (02) casos foram referencias distantes à possibilidade de vir a pegar o vírus.
Contrariando o senso comum, com base no exposto acima acreditamos que o vírus ZIKA efetivamente não tem afetado ao desejo, a busca ou a efetivação do aborto.
Acreditamos que buscar essa correlação possa sim ter um “enquadramento” mais político para os setores favoráveis a legalização ou discussão do tema do que um apelo social consciente e perene.
Entretanto a partir do momento em que governos nutram interesse em levar o assunto a sua população para uma discussão, estamos sim criando um regime democrático alinhado com os melhores princípios da moderna democracia.
- Você acha que o Brasil será capaz de continuar a isolar-se e proibir o acesso ao aborto com pílulas, com mais e mais países que têm legislação sobre o aborto flexível, como por exemplo o seu vizinho Uruguai? (Do you think Brazil will be able to continue to isolate itself and forbid access to abortions pills, with more and more countries having flexible abortion legislation, as for example its neighbour Uruguay? – Asked by the press)
Acreditamos que cada país deve adotar a governança que mais reflita os anseios de sua população. Diferentes opiniões sempre irão existir, mas dentro de uma filosofia conciliatória e democrática.
O posicionamento politico não precisa ser unanime e muito menos padronizado, afinal sairíamos de uma democracia para um regime totalitário se assim o fosse. A padronização deve ficar atrelada a ciência, a tecnologia e aos procedimentos de saúde, que devem sim evoluir em conjunto para gerar uma sociedade saudável.
- Você espera que o Brasil com uma mulher presidente vai fazer esforços para mudar o actual estado de coisas e garantir aborto legal e seguro? (Do you expect that Brazil with a female president will make efforts to change the current state of affairs and ensure legal and safe abortions? – Asked by the press)
A governança não tem sexo, de forma que, tanto uma presidente mulher como um presidente homem, devem gerir igualitariamente, sem permitir que uma discussão sofra polarização de gênero.
O anseio pela possibilidade de um aborto seguro (quando for essa a decisão) não é apenas um desejo isolado de uma mulher, mas em geral reflete o desejo privado de um casal que passa por um momento inadequado no tempo.
- Podem as mulheres brasileiras com acesso à internet contar com as organizações internacionais para os direitos das mulheres e dos direitos reprodutivos para tentar obter medicina para ter um aborto seguro? (Can Brazilian women with internet access rely on international organizations for woman rights and reprodutive rights to try to get medicine to have a safe abortion? – Asked by the press)
O aborto seguro não pode e nem deve ser limitado ou entendido como um simples consumo de medicamentos o que levaria a sua banalização e até insegurança.
O aborto seguro abrange vários tópicos da saúde feminina, como a prevenção de uma gravidez indesejada, compreensão sobre o próprio corpo e até mesmo sobre um parto seguro. Muito foi feito para o entendimento médico de como deve ser um aborto seguro, mas estamos vivenciando uma longa jornada para alcançar o ideal.
O desenvolvimento de novas tecnologias na telemedicina, decisões médicas auxiliadas por inteligência artificial, assim como medicamentos inteligentes abrem margem para um nível de segurança que não poderíamos sequer cogitar cinco anos atrás.
Aborto na Nuvem – 03/02/2016
ANEXO – Posicionamento sobre o vírus ZIKA e sua correlação com o aborto
Publicado em 04/02/2016
Assunto(s): Institucional
Região: Brasil
- O que você acha do crescente ativismo e clamor feminista pela liberação do aborto. (What do you think of the growing activism and feminist cry for liberation of abortion? – Asked by the press)
Aborto na nuvem não estabelece vínculos com organizações partidárias ou ativistas. Acreditamos na igualdade de gênero que por consequência nos leva a igualdade de escolhas. A escolha pelo aborto é um posicionamento de um casal.
Retirar o direito de escolha do homem é tão cruel quanto podar o direito de escolha da mulher. O ativismo tem seu lugar no mundo como forma de chamar a atenção para os problemas, entretanto acreditamos que a forma correta para mitigar tais problemas passa pelo desenvolvimento de soluções.
- Uma mulher com um feto diagnosticado com microcefalia tem o direito de fazer um aborto? (A woman with a fetus diagnosed with microcephaly have the right to have an abortion? – Asked by the press)
Uma escolha pode assumir diferentes rumos. Não nos cabe discutir quais as escolhas e sim dar subsídios para que elas existam. Se a escolha for por levar essa gestação adiante e ter essa criança, é um direito fundamental e para o qual a sociedade deve se mobilizar de forma que os pais tenham a devida assistência médica possibilitando que esse novo ser humano tenha o desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidades. Jamais devemos polarizar as escolhas, pois a existência das mesmas é que nos torna livres.
Aborto na Nuvem – 04/02/2016