Onde posso fazer um aborto?

O aborto químico apresenta-se como um método que imita o processo de um aborto espontâneo, método que evita o recurso a procedimentos cirúrgicos. Se já leste as outras secções do nosso website, então já deves ter percebido que uma das grandes vantagens deste método é precisamente a possibilidade de fazer a interrupção voluntária da gravidez onde a mulher se sentir mais confortável (no próprio lar, em casa de um amigo, entre outros).

No momento da escolha do lugar, é essencial que tenhas em mente alguns aspetos importantes. Nesta secção abordaremos algumas informações com o intuito de fazer-te perceber que é necessário cumprir determinados “requisitos” para ter um aborto tranquilo.

A falta de planeamento familiar

Em determinados países é possível verificar que o planeamento familiar é colocado em segundo plano, não merecendo a atenção ou a importância desejada. Em países como o Brasil, por exemplo, é dada uma maior ênfase ao atendimento pré-natal ou pós-parto. Segundo Moura et al., (…) na organização dos serviços não é prioridade oferecer às usuárias a possibilidade de trilhar sua trajetória sexual sem risco de gravidez indesejada ou mesmo ter os filhos que deseje. Esta situação verifica-se nomeadamente em camadas populacionais mais jovens.

A falta de um planeamento adequado faz com que as práticas sexuais sejam realizadas muitas vezes sem as devidas precauções para evitar gravidezes e DST.

Aliada à falta de recursos que proporcionem à mulher um adequado aconselhamento reprodutivo encontram-se as leis altamente restritivas ou até proibitivas de muitos países em relação ao aborto, algo que acaba por deixar a mulher sem alternativas quando confrontada com uma gravidez não planeada e indesejada.

A necessidade de um aborto

Com os comprimidos é possível deixar o corpo realizar o procedimento de aborto no conforto de casa. Nos países onde o aborto é ilegal, é uma mais valia porque a mulher não precisa de enfrentar olhares de desconhecidos nem o julgamento público; no entanto, esta necessidade de terminar com uma gravidez, ato que é repudiado por grande parte da sociedade, faz com que a oferta do mercado negro venha à superfície com produtos que podem vir a constituir um grande risco para a saúde e até a vida da mulher.

Alertamos para o perigo que existe na compra de Misoprostol de fontes desconhecidas. Geralmente estes produtos são falsos, algo que se traduz em desperdício de tempo e dinheiro. É desconhecida a composição química dos fármacos que são vendidos no mercado negro, mas é importante saber que existe a hipótese de que a sua ingestão poderá vir a colocar a saúde da gestante em risco.

O risco do aborto inseguro

Em 2017 foi publicado um artigo[1] sobre os maus tratos e a discriminação para com as mulheres que tiveram complicações após terem realizado um aborto inseguro. Este estudo contém dados obtidos no Brasil e contém relatos de situações mais humilhantes após um aborto incompleto, nomeadamente para com aquelas mulheres que confessaram ter induzido um aborto. Neste artigo desenvolvido por Madeiro et al. é possível ler que, no Brasil o uso do Misoprostol está restrito ao meio hospitalar, e que por essa razão, a obtenção do medicamento é feita maioritariamente através do mercado clandestino “onde não há segurança sobre procedência, qualidade e doses”. Os autores sugerem que o medicamento proveniente destas fontes compromete a eficácia do medicamento, algo que pode aumentar o número de abortos incompletos.

Estudos exploratórios vêm indicando que as brasileiras usam o misoprostol, mas em condições de precariedade. Elas precisam percorrer uma longa caminhada entre o processo de decisão e sua implementação. Esta rota implica providenciar certos passos que acabam obrigando-as a buscar o medicamento na ilegalidade. Sendo hoje permitido apenas para uso hospitalar, o medicamento é vendido através de estratégias informais, de maneira clandestina, provenientes de fontes nem sempre seguras.

Arilha, 2012[2]

O estudo conta com dados de mulheres que confirmaram ter tido efetivamente um aborto induzido com Misoprostol (Cytotec), porém, através de métodos variados como a combinação de chás com o medicamento e uso de uma sonda uterina, assim como em doses também diferentes, chegando inclusive, em alguns casos, a ingerir 10 comprimidos. Verificou-se que o uso foi maioritariamente oral e vaginal. Devido ao uso errado do medicamento, principalmente quando administrado pela via vaginal, os médicos conseguiram detetar que as mulheres tinham provocado o aborto, sendo que o tratamento que estas receberam no serviço de saúde não foi positivo.

As entrevistadas neste estudo classificam o tratamento como uma espécie de castigo por terem desejado levar a cabo o aborto. Estas mulheres foram confrontadas com julgamentos morais, ameaças de denúncia à polícia e uma espera excessivamente prolongada pelo tratamento ao aborto incompleto.

Já na Colômbia, o uso inadequado do Misoprostol corresponde a uma elevada taxa de complicações – 32%[3].

O conforto e a responsabilidade

Perante a questão da privacidade num país com leis altamente restritivas ou proibitivas ou até em países sem restrições ao aborto, mas onde a mulher não deseja ser julgada, o Misoprostol (Cytotec – 200mcg) proporciona a privacidade desejada por uma mulher, no entanto, esta comodidade apenas trará o resultado desejado se a mulher tiver a responsabilidade de seguir as instruções tal como as indicamos ao longo do nosso website.

O estudo brasileiro que indicamos no ponto anterior serve como exemplo do que te estamos a dizer; é comum que as mulheres leiam artigos e ouçam opiniões relacionadas ao método e que sejam levadas a acreditar que a melhor maneira de concretizar a interrupção é através da via vaginal. Atenção, este método é aquele que denuncia a mulher em caso de complicações graças aos vestígios que podem ficar no canal vaginal.

É imperativo que a mulher use o Misoprostol (Cytotec – 200mcg) através da via sublingual. O princípio ativo deste medicamento é rapidamente metabolizado e não ficam restos visíveis que deem a entender que a mulher provocou o aborto.

Lê mais sobre o uso do Cytotec aqui: Cytotec debaixo da língua

Relativamente à quantidade, 6 comprimidos são suficientes para concretizar o aborto.

Assim sendo, antes de realizar o aborto:

• Informa-te:

Lê bem toda a informação que está no nosso site. Uma decisão ponderada e informada é sempre o melhor caminho para usufruíres dos teus direitos enquanto mulher. Não te esqueças que quanto mais avançada estiver a gestação, maiores são os riscos associados. Apenas poderás realizar este processo até ao máximo das 12 semanas. Após este período, não será possível usar medicação para tal finalidade.

Se tiveres mais de 12 semanas, então aconselhamos-te a ponderar outras alternativas como ir a outro país onde o aborto seja legalizado para abortar de forma cirúrgica ou dar o bebé para adoção.

• Protege o teu bem-estar:

Certifica-te que te encontras perto de um hospital ou centro de saúde, assim, se suspeitares que sofreste alguma complicação, poderás receber atendimento rapidamente (o ideal será que te encontres a menos de uma hora de distância).

Tenta ter fácil acesso a meios de transporte e evita estar sozinha durante o procedimento.

• Segue as instruções:

Ao longo do nosso website irás encontrar as instruções de uso, nomeadamente aqui: Instruções de Uso do Cytotec .

Segue-as à risca para que o teu aborto corra sem problemas.

Documentos para download:

Maus-tratos e discriminação na assistência ao aborto provocado

Misoprostol: percursos, mediações e redes sociais para o acesso ao aborto medicamentoso em contextos de ilegalidade no Estado de São Paulo

Referências:

[1] Madeiro AP, Rufino AC. Maus-tratos e discriminação na assistência ao aborto provocado: a percepção das mulheres em Teresina, Piauí, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 22(8):2771-2780, 2017. Disponível em:  http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n8/1413-8123-csc-22-08-2771.pdf

[2] Arilha MM. Misoprostol: percursos, mediações e redes sociais para o acesso ao aborto medicamentoso em contextos de ilegalidade no Estado de São Paulo. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 7, p. 1785-1794, 2012. Disponível em:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012000700017

[3] Datos sobre el embarazo no deseado y aborto inducido en Colombia. Guttmacher Institute, 2013. Disponível em: https://www.guttmacher.org/es/fact-sheet/datos-sobre-el-embarazo-no-deseado-y-aborto-inducido-en-colombia