Ter um aborto e fazer um aborto são dois conceitos diferentes. Um aborto pode dividir-se em duas categorias: o espontâneo (que acontece de forma natural) e o induzido (provocado).
O aborto espontâneo é morte embrionária ou fetal não induzida ou a eliminação dos produtos da conceção antes das 20 semanas de gestação[1]. Já o aborto induzido é o ato de interromper a gestação por motivo externo e intencional antes da viabilidade extrauterina[2]. Este pode ser levado a cabo de forma farmacológica ou cirúrgica.
A interrupção cirúrgica da gravidez consiste na remoção do produto da gravidez (conteúdo uterino) através da aspiração ou curetagem.
Para mais informações sobre a aspiração a vácuo e curetagem, podes aceder aos seguintes links:
A curetagem
Curetagem após o aborto
Aspiração a vácuo
Já um aborto químico (também conhecido por aborto farmacológico ou inclusive, embora seja mais raro, também por aborto medicamentoso ou medicinal) consiste na administração de medicamentos com o intuito de expulsar o conteúdo da gravidez num procedimento que em muito se assemelha a um aborto espontâneo.
Medical abortion care encompasses the management of various clinical conditions including spontaneous and induced abortion (both viable and non-viable pregnancies), incomplete abortion and intrauterine fetal demise, as well as post-abortion contraception.
WHO, 2018[3]
Imagem 1 – Gráfico com o número crescente de abortos químicos entre 2001 e 2014
A opção do aborto químico pode ser tomada nas seguintes situações:
Num aborto incompleto: caso onde a gravidez não se desenvolve mais, mas o tecido e o conteúdo da gravidez não são corretamente expulsos. Emprega-se o uso da aspiração manual intrauterina (a mais aconselhável dada a maior segurança e rapidez que proporciona), mas, em casos onde não é possível realizar a aspiração, procede-se à curetagem. Noutras situações e sob determinadas condições, a interrupção química com Misoprostol também é aconselhada.
Aborto retido: o não crescimento do saco gestacional, ausência de embrião ou presença de embrião sem atividade cardíaca também poderão precisar de uma conduta farmacológica para que os restos sejam expelidos do corpo da mulher (embora a conduta expectante também seja favorável).
Interrupção voluntária da gravidez: foco principal dos nossos serviços. O Misoprostol veio conceder às mulheres uma opção mais discreta e confortável de levar a cabo a terminação de uma gestação indesejada.
Medication abortion is effective more than 95% of the time. In cases where the recommended dosage does not end the pregnancy, additional medication or surgical abortion care can be sought to complete the abortion.
Guttmacher Institute, 2018[4]
- Combinação Misoprostol + Mifepristone (RU486): é possível observar que, em determinadas situações, o aborto é realizado através da junção destes dois fármacos. Basicamente, o Mifepristone impede a produção de progesterona (hormona essencial para manter uma gravidez), mas atenção, este medicamento não expulsa o conteúdo da gravidez
O mifepristone liga-se aos receptores do progesterona inibindo a sua acção, com consequente interferência no prosseguimento da gravidez. O misoprostol, análogo sintético da prostaglandina, administrado 36/48 horas mais tarde, potencia as contracções uterinas e contribui para expulsar o produto de concepção.*
Direcção-Geral da Saúde, 2007[5]
*Respeitada a grafia original sem acordo ortográfico.
Aborto na Nuvem desaconselha o uso do Mifepristone dado o elevado risco de infeções.
Mais informações sobre o RU486 ou Mifepristone podem ser encontradas aqui: RU486/Mifepristone
- Uso do Misoprostol de forma isolada: análogo sintético da prostaglandina E1, usado no tratamento e prevenção da úlcera gástrica cuja origem advém da ingestão de AINES (anti-inflamatórios não esteroides). É utilizado em regime off-label para a interrupção de gravidezes. Devido ao seu baixo custo, segurança, disponibilidade e facilidade de uso, o Misoprostol tem vindo a ser utilizado de forma isolada e sem a combinação de mais nenhum medicamento – método que os nossos serviços aconselham.
Tal como já afirmamos noutra secção do nosso site, o uso do Misoprostol sozinho tem vindo a revelar-se eficaz, algo que não acontece com o Mifepristone, que depende mesmo do uso do Misoprostol para expulsar o conteúdo da gravidez.
Este método possui alguns efeitos secundários, nos quais se incluem cãibras, sangramento um pouco mais intenso que o de um período menstrual normal, náuseas, vómitos e diarreia. No entanto, trata-se de um medicamento seguro que consta na lista de medicamentos essenciais da OMS.
Expected side effects are typically minor and similar to the symptoms of a miscarriage: bleeding, uterine cramping and pain. In addition, about 85% of patients report at least one of the following side effects: nausea, vomiting, weakness, diarrhea, headache, dizziness, fever and chills.
Guttmacher Institute, 2018
Desta forma, e mais resumidamente, o aborto químico – tal como indica a sua própria designação – é aquele que se leva a cabo através de um método farmacológico e que não requer nenhuma intervenção cirúrgica ou internamento hospitalar.
A person’s ability to self-administer mifepristone and misoprostol after receiving instructions from a provider is well established,22 and there is evidence that it is safe and effective for someone to do so without the direct supervision of a provider. WHO recommends this option if the individual has “a source of accurate information and access to a health-care provider should they need or want it at any stage of the process.”
Guttmacher Institute, 2018
Documentos para download:
Dilation and Curettage. Complete Information (D&C)
2018 Clinical Policy Guidelines for Abortion Care
Interrupção da Gravidez por Opção da Mulher
ATENÇÃO HUMANIZADA AO ABORTAMENTO
Referências:
[1] Dulay A. Aborto espontâneo. MDS, 2018. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/complica%C3%A7%C3%B5es-da-gravidez/aborto-espont%C3%A2neo
[2] Sell SE, Santos EKA, Velho MB, Erdmann AL, Rodriguez MJH. Motivos e significados atribuídos pelas mulheres que vivenciaram o aborto induzido: revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP, 2015 – 49(3):502-508. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49n3/pt_0080-6234-reeusp-49-03-0502.pdf
[3] Medical management of abortion. World Health Organization, 2018. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/278968/9789241550406-eng.pdf?ua=1
[4] Donovan M. Self-Managed Medication Abortion: Expanding the Available Options for U.S. Abortion Care. Guttmacher Institute. Volume 21, October 2018. Disponível em: https://www.guttmacher.org/gpr/2018/10/self-managed-medication-abortion-expanding-available-options-us-abortion-care
[5] Interrupção Medicamentosa da Gravidez. Direcção-Geral da Saúde, 2007. Disponível em: https://www.spdc.pt/files/legix/11268_3.pdf
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