O sangue é um tecido líquido composto por diversas células que circula pelo nosso corpo. A sua existência é vital para a sobrevivência humana.
Os tipos de sangue podem ser A, B, AB ou O. Na superfície dos glóbulos vermelhos poderá haver a presença ou a ausência de uma proteína chamada Rh. Se o teu tipo de sangue é Rh positivo, isto significa que você tem a proteína no sangue. Se for do tipo Rh negativo, então você não tem esta proteína.
O tipo de sangue e a sua influência na gravidez:
Ser Rh+ não tem qualquer tipo de influência na gravidez, porém se a gestante for Rh- e se o pai do bebé for Rh+, isto poderá fazer com que a criança possa nascer com o sangue Rh+ também.
Se o sangue do bebé entra em contato com a corrente sanguínea da mãe, o sistema imune da mulher começará a produzir anticorpos que irão reagir contra os glóbulos vermelhos do bebé. No entanto, o risco de que esta situação venha a acontecer verifica-se de forma mais comum no momento do parto. Isto quer dizer que numa primeira gravidez é muito pouco provável que o bebé seja afetado, não obstante, se houver uma segunda gravidez, as defesas da mulher irão encarar o feto como um invasor e assim, os anticorpos que foram criados na primeira gestação irão atacar o sangue do bebé, caso este tenha o sangue Rh+. Este acontecimento tem o nome de sensibilização e poderá provocar o aborto espontâneo ou nado-morto, anemia, doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblastose fetal[1].
A vacina:
Este problema de incompatibilidade sanguínea pode ser controlado através de uma injeção de Imunoglobulina Anti-D. O objetivo é eliminar os anticorpos criados no organismo da mulher para evitar complicações numa futura gestação.
A incompatibilidade num aborto:
A transmissão de sangue também poderá acontecer num caso de aborto (quer espontâneo, quer induzido)[2] e é comum que os médicos aconselhem às gestantes a tomar uma injeção de Imunoglobulina Anti-D.[3] Destacamos que são muito escassos os estudos relativamente a este tema[4], porém verifica-se a existência de uma investigação sobre o aborto químico e aborto espontâneo no primeiro trimestre (primeiras 12 semanas) que conclui que há muito pouco ou até nenhum contato entre o sangue da mulher e o do embrião e que a mulher não produz anticorpos suficientes que possam vir a afetar o próximo embrião.[5]
Para além deste estudo, um protocolo publicado no Brasil indica que a incompatibilidade sanguínea é mais rara em casos de aborto, entre alguns outros.[6]
Preciso de tomar a injeção antes de fazer o aborto?
Poucas são as evidências que levem a acreditar que a mulher precise de levar uma injeção de Imunoglobulina Anti-D em abortos de primeiro trimestre, porém, o mais importante é que você se sinta mais segura e, por essa razão, se você tiver dúvidas, sugerimos que se dirija a um médico (hospital, clínica, etc.) depois de ter feito o seu aborto com Misoprostol (Cytotec 200mcg). Diga que teve um aborto espontâneo e que o seu tipo de sangue é Rh-. Ele dirá se você precisa de receber ou não a injeção de Imunoglobulina Anti-D.
OS SEUS DIREITOS
O médico tem um compromisso ético e moral de prestar assistência.
Se você estiver em algum país com restrições legais e políticas relativamente ao aborto, deverá dizer que acha que teve um aborto espontâneo. Este tipo de acontecimento é muito comum, e por esta razão nenhum médico (a) e/ou enfermeiro (a) poderá negar o atendimento, submeter você a tratamentos que sejam discriminatórios ou que provoquem traumas de ordem física ou psicológica.
Caso você sinta que, foi submetida a algum tratamento humilhante ou doloroso, que foram negados os seus direitos fundamentais, não fique em silêncio. DENUNCIE!
Você tem o direito e a obrigação de denunciar as pessoas envolvidas às autoridades competentes ou aos órgãos reguladores. A sua denúncia ajudará a criar um melhor padrão de atendimento médico.
O sigilo médico é um dever do médico/profissional de saúde e um direito do paciente.
Se você for vítima da quebra do sigilo médico, deverá fazer a devida denuncia não apenas às autoridades competentes, como também aos meios de justiça do seu país. Procure um advogado e peça uma indenização. Na maioria dos países a quebra do sigilo entre médico e paciente se encontra sujeita a sanções penais como penas de prisão e multas.
Artigos para download:
Isoimunização Rh Cap.18 25.08.2004
Referências:
[1] American College of Nurse-Midwives. Rh- Negative Blood Type and Pregnancy. Journal of Midwifery & Women’s Health. 2013, Volume 58, Nº. 6, November/December. Disponível em: http://www.midwife.org/acnm/files/ccLibraryFiles/Filename/000000003906/Rh_negative_blood_pregnancy.pdf
[2] Isoimunização Rh. Disponível em: https://bionascimento.com/wp-content/uploads/2015/08/pcap018.pdf
[3] Direção-Geral da Saúde. Profilaxia da Isoimunização Rh. 2007. Disponível em: http://www.arscentro.min-saude.pt/Institucional/projectos/crsmca/noc/Documents/saude%20materna/Profilaxia%20da%20Isoimuniza%C3%A7%C3%A3o%20Rh.pdf
[4] Blum, J; Bynum, J; Dabash, R; Diop, A; Durocher, J; Dzuba, I; Peña, M; Raghavan, S; Winikoff, B. Misoprostol para Tratamento de Abortamento Incompleto: Um Guia Introdutório, 2009. Gynuity Health Projects. Disponível em: http://gynuity.org/downloads/resources/clinguide_pacguide_po.pdf
[5] Hannafin, B, Lovecchio, F. Do Rh-negative women with first trimester spontaneous abortions need Rh immune globulin? Am J Emerg Med. 2006 Jul;24(4):487-9.
[6] Protocolo de dispensação de imunoglobulina Anti-Rh. Prefeitura do Município de São Paulo. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/assistenciafarmaceutica/imunoglobulina_AntiRh.pdf
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